Recordar Santa Teresa de Ourém no VIII Centenário do seu nascimento e 25º aniversário da redescoberta da relíquia da sua cabeça

Imagem Processional de Santa Teresa de Ourém

Foi no ano de 1220 que Tareja (Teresa), a primeira Santa Ouriense, nasceu na aldeia do Zambujal, tendo falecido na Vila de Ourém (Castelo), a 3 de Setembro de 1266, com apenas 46 anos de idade.

Lapide no Zambujal junto à Capela

Reza a tradição que Teresa nasceu precisamente no local onde hoje existe a Capela do Zambujal construída no local de uma outra mais antiga.

Capela de Santa Teresa no Zambujal

A história da Santa canonizada por proclamação do único Papa Português João XXI, após aclamação popular, conta que era padeira de profissão e servia os Padres das Igrejas de Santiago e de São João na Vila amuralhada do Castelo de Ourém, vivendo num solar que existia junto ao povoado mais antigo no Terreiro de Santiago.

Relíquia Insigne da Cabeça de Santa Teresa

Contam as lendas populares passadas a escrito em vários livros dos séculos XVII e XVIII como o “Flos Sanctorum” do Padre Rosário, que Teresa como “por milagre” se fazia pequena para assim passar pela fechadura da cadeia de Ourém e poder tratar, alimentar e pregar a Boa Nova aos presos. Por esta razão é retractada na iconografia sacra com uma bíblia numa mão e o ferrolho da fechadura da prisão na outra.

Seu culto popular ganhou novos devotos após o Terramoto de 1 de Novembro de 1755 quando seu túmulo primitivo na Sé-Colegiada foi posto a descoberto. Infelizmente o mesmo terá desaparecido posteriormente com as Invasões Francesas.

Livro da Biblioteca da Regalis Lipsanotheca

Venera-se no entanto a Relíquia do Casco da Cabeça da Santa preservado numa caixa-relicário de prata cujo fabrico, segundo o Perito em Relíquias, Carlos Evaristo, é anterior ao Concílio de Trento dado que tem rasgos gradeados nas paredes da caixa para a exposição parcial e veneração, algo que se deixou de usar depois de 1600.

Esta Relíquia Insigne da Cabeça de Santa Teresa de Ourém era exposta para a veneração dos fieis, anualmente, a 3 de Setembro, dia do seu falecimento e de sua Festa. Nesse dia os estudantes vinham em romaria e recebiam a bênção com o toque da relíquia nas suas cabeças para assim serem bons alunos e terem boas notas.

A prática foi continuada até cerca de 1911 quando a relíquia foi retirada do Culto pelo Pároco, Padre Carlos Pereira Gens que assim a quis poupar do arrolamento de que já havia sofrido o Relicário do IV Conde de Ourém.

A Relíquia da cabeça de Santa Teresa esteve perdida desde a altura em que o Relicário do IV Conde de Ourém foi levado da Sé-Colegiada para o Museu Nacional de Arte Antiga de onde jamais voltou.

imagem de Santa Teresa na antiga Sé-Colegiada

A Relíquia Insigne foi reencontrada em 1995, juntamente com as Relíquias do Relicário do IV Conde de Ourém, por Carlos Evaristo, Presidente da Direcção da Fundação Oureana e re-autenticadas a 9 de Outubro do mesmo ano pelo Pároco Padre Carlos Querida da Silva depois de ter sido positivamente identificada por Evaristo através do “Estudo das Relíquias da Sé-Colegiada” enviado ao Vaticano e validado pela Sagrada Congregação para a Causa dos Santos.

O reencontro no Arquivo Paroquial de uma “Autentica” (documento de autenticidade da relíquia) escrito pelos Cónegos no Século XIX veio revalidar a declaração sobre a identificação da descoberta de Evaristo e contribuir para a história da Santa e de seu Culto.

O casco da cabeça apresenta dois orifícios que se pensava ser resultado da prática médica de trepanação (furação do crânio para alívio da dor de cabeça severa) mas segundo o estudo de Carlos Evaristo estes foram propositadamente abertos para serem usados, pelos Cónegos da Real e Insigne Sé-Colegiada, para retirarem a relíquia da caixa de prata, feita à sua medida e isto numa altura, já depois do Concílio de Trento, quando a veneração e o toque nas relíquias já era permitido.

O Perito em Relíquias Carlos Evaristo

A relíquia óssea, segundo um estudo forense do Centro para a Pesquisa Religiosa da Fundação Oureana, levado a cabo pelo seu Presidente, o Médico-Legista Forense Prof. Frederick T. Zugibe, “é bastante antigo” e “de uma mulher de média idade e estatura pequena”.

Por Protocolo celebrado entre a Paróquia e a Fundação Oureana a relíquia passou a ficar depositado em exposição na Regalis Lipsanotheca e assim permaneceu desde 1995 e até depois da morte do Padre Carlos Querido da Silva em 2011. Durante esses anos a relíquia foi estudada, conservada e assegurada com um seguro contra todos os riscos. Para além de toda esta precaução, a Fundação Oureana ainda contribuía anualmente com um generoso donativo à Paróquia para manutenção do Culto de Santa Teresa, com uma Missa anual com Veneração da Relíquia. Retomou-se também a tradição da bênção dos estudantes. É de lamentar que a Festa anual acabou por ser descontinuada com a partida do Padre Querido.

A Caixa de prata com a Relíquia Insigne foi devolvida à Paróquia com registo na Diocese de Leiria-Fátima pouco depois do falecimento do Padre Carlos Querido da Silva e jamais venerada ou usada em actos de Culto Devocional e de Veneração

O Culto popular de Santa Teresa que já havia sido reduzido a culto local como “Beata” após as reformas do Concílio de Trento é hoje somente venerada na sua terra natal do Zambujal embora ainda haja imagens suas na Capela de Santo Amaro e na Igreja da Sé-Colegiada. Estas três imagens em madeira talhada e policromada são as únicas que existem.

Antiga Cadeia de Ourém

Hoje no Zambujal mantém-se o seu culto bem vivo com Missa anual no dia de sua Festa e Procissão. Um relicário que é levado na Procissão contem um pequeno fragmento da cabeça da Santa que se encontrava já solto entre os dois orifícios abertos do casco.

Padre Dr. Fernando Varela na Regalis Lipsanoethca com a Relíquia da Cabeça de Santa Teresa de Ourém entregue a Capela do Zambujal
Pormenor da Relíquia

Este fragmento foi retirado, há vários anos, com autorização do Bispo Diocesano e do Pároco, para veneração do povo na sua terra natal. O relicário preparado por Carlos Evaristo, na Regalis Lipsanotheca, foi entregue ao Padre Dr. Fernando Varela, grande devoto da Santa e o dedicado Sacerdote que tem mantido o seu culto vivo na terra onde nasceu.

Imagem Pintada de Santa Teresa na Regalis Lipsanotheca da Fundação Oureana
Fechadura Milagrosa de Santa Teresa proveniente da Cadeia de Ourém

Reza a tradição que as ruínas de um forno de pão junto ao largo com o nome de Santa Teresa do Ourém era onde a mesma cozia o pão. Já a sua casa ou solar no Terreiro de Santiago cujas ruínas acabaram por ser demolidas por ordem de D. Afonso, IV Conde de Ourém em 1445, havia sido parcialmente desmantelada para de acordo com o seu testamento, reparar as cadeias ou prisões de Ourém que manteve sempre “a fechadura do milagre de Santa Teresa” até à sua remodelação como Ucharia (Restaurante) quando foi descartada juntamente com as madeiras velhas tendo sido recuperada pela Fundação Oureana e hoje exposta na Regalis Lipsanotheca numa altar com um painel pintado em honra da Santa Ouriense.

A história de Santa foi tema de uma Palestra apresentada por Carlos Evaristo, em Ourém, no dia 3 de Setembro, aquando de uma Missa comemorativa dos 800 anos do nascimento de Beata Teresa de Ourém celebrada na Regalis Lipsanotheca.

https://www.facebook.com/212843178822287/videos/636982263662207

Video da Palestra de Carlos Evaristo gravado e editado por José Alves (Soutaria TV)

FOTOS: Arquivo da Regalis Lipsanotheca da Fundação Oureana / José Alves

9 de Outubro de 2020

25º Aniversário da re-autenticação da Relíquia do casco da Cabeça de Santa Teres de Ourém

LANÇAMENTO DO LIVRO "SANTA TERESA DE OURÉM", DE ANTÓNIO RODRIGUES BAPTISTA  | Programme | Rede Cultura 2027 Leiria
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