Fundação publica estudo inédito sobre Colecção de Relíquias do IV Conde de Ourém no 575º Aniversário da Real e Insigne Sé-Colegiada de Santa Maria da Misericórdia de Ourém e 8º Centenário do Nascimento de Santa Teresa de Ourém

Carlos Evaristo com o Relicário do IV Conde de Ourém após recolocação das Relíquias

Foi a 22 de Setembro de 1445 que D. Afonso, IV Conde de Ourém, recebeu do Papa Eugénio IV um Breve Papal que encarregava o Primogénito da Casa de Bragança, neto de D. João I e do Santo Condestável, de “reunir todos os benefícios das quatro paróquias da Vila de Ourém, (Santa Maria, São Pedro, São João e São Tiago) e criar, com eles, uma Colegiada no sítio onde existia a antiga Igreja de Santa Maria, mandada edificar por D. Afonso Henriques”.

Aquela Igreja que passaria a ser conhecida como “Real e Insigne Sé-Colegiada de Santa Maria da Misericórdia de Ourém” era segundo Carlos Evaristo, Perito em iconografia Sacra Medieval e Relíquias Sagradas, “dedicada à Visitação de Maria Santíssima a sua prima Santa Isabel, numa invocação Italiana que o IV Conde de Ourém popularizou em Portugal”.

Igreja de Nossa Senhora da Visitação (Matriz de Ourém e Antiga Colegiada) |  e-cultura
Antiga Real e Insigne Sé-Colegiada de Santa Maria da Visitação de Ourém

Foi assim sido criada uma Colegiada de Cónegos Seculares, que em vez de prestarem obediência a um Bispo, serviam o poderoso Conde, que mais tarde se tornou Marquês de Valença. Estes Padres atendiam o Conde nas suas devoções particulares, ficando assim a Igreja um bem privado do seu Condado com a dignidade de Sé. Aproveitando a mão de obra destacada para Ourém para remodelar o Castelo de Ourém e erguer um magnífico Palácio ou Paço Condal, (um verdadeiro arranha céus para a época com cinco pisos!), o IV Conde de Ourém mandou também remodelar a Igreja de Santa Maria em Ourém e o Castelo de Porto de Mós de quem também era Senhor, tudo no estilo daqueles Palácios Senhoriais que havia visto em Florença e Ferrara.

Ourém | Castelo vai ter passadiço, museu e nova paisagem (c/vídeo) | Médio  Tejo
Paço e Torreões do Castelo de Ourém manados edificar pelo IV Conde de Ourém

Para garantir que jamais fosse esquecido, D. Afonso de Ourém ou Afonso de Portugal, como também era conhecido, instalou na Sé-Colegiada (que haveria de receber os títulos de “Real e Insigne” já no tempo do Marquês de Pombal, pouco antes de ser parcialmente destruída com o Terramoto de 1 de Novembro de 1755), uma fabulosa Colecção de Relíquias que o Primogénito da Casa de Bragança foi adquirindo junto dos responsáveis pelos principais Santuários de Relíquias Europeus e por onde passou a caminho e de regresso das suas embaixadas; a Roma, a Santiago de Compostela, a Basileia, a Bruges e aquando da uma suposta Peregrinação à Terra Santa.

Relicário do IV Conde de Ourém no MNAA

Para esta colecção o IV Conde de Ourém mandou criar um magnífico Relicário, obra prima da ourivesaria Portuguesa do Século XV, que segundo Carlos Evaristo, “simboliza toda os feitos deste poderoso e influente membro da Corte do Rei D. Afonso V”.

D. Afonso de Ourém instalou o seu Relicário na Sé-Colegiada, numa Capela de Relíquias que criou onde hoje existe a Capela de Santo António. La introduziu o Culto às Santas Relíquias em Ourém, à semelhança do que os grandes senhores à época faziam para serem relembrados perpétuamente.

Na Cripta da Igreja foi mais tarde construída a Cripta Sepulcral do Fundador, uma réplica da Sinagoga de Tomar, para onde seu irmão D. Fernando, II Duque de Bragança e V Conde de Ourém, juntamente com D. Afonso de Portugal, Bispo de Évora (filho bastardo do IV Conde de Ourém) mandaram trasladar os restos mortais da Igreja de Nossa Senhora dos Olivais em Tomar, sepultando o mesmo num magnífico túmulo esculpido com a sua verdadeira imagem jacente.

Cripta e Túmulo do IV Conde de Ourém - Junta Freguesia Nª Sª das  Misericórdias
Túmulo de D. Afonso, IV Conde de Ourém na Cripta da Sé-Colegiada

O Relicário sobreviveu ao Terramoto de 1755 e juntamente com o Santíssimo Sacramento foi levado para a Ermida de São José (local onde actualmente se encontra a Regalis Lipsanotheca – Capela de Relíquias da Fundação Oureana) e ali permaneceu até que a Sé – Colegiada foi re-construída.

Os Cónegos da Sé-Colegiada conseguiram resgatar o Relicário das mãos dos Franceses aquando das Invasões pagando o preço do peso da prata, mas infelizmente foi devolvido já sem a cruz do seu zimbório que era cravejada de pedras preciosas.

Depois com a Implantação da República, o Relicário foi parar ao Museu Nacional de Arte Antiga através da lei do arrolamento dos bens da Igreja tendo sido nessa altura separada do seu conteúdo sagrado (a Colecção de Relíquias) cujo paradeiro era desconhecido desde 1914.

Em 1995, o Presidente da Fundação Oureana, Carlos Evaristo, reconhecido perito internacional em Relíquias Sagradas e Arte Sacra e Consultor dos Museus do Vaticano, descobriu a Colecção de Relíquias perdida do IV Conde de Ourém numa caixa de papelão, guardada no sótão da Casa Paroquial.

Depois de identificadas e estudadas, estas relíquias insignes foram conservadas por Carlos Evaristo e registadas como Tesouro da Diocese de Leiria -Fátima mas não antes de serem primeiro re-autenticadas pelo Pároco Padre Carlos Querido da Silva, (2º Presidente do Conselho de Curadores da Fundação Oureana), após um estudo de Carlos Evaristo que mereceu Parecer favorável da Sagrada Congregação para a Causa dos Santos no Vaticano.

Cartaz das Comemorações e Exposição organizadas pela Fundação Oureana em 1995

As Relíquias da Colecção de D. Afonso de Ourém foram seguidamente exibidas pela primeira vez desde 1910, numa exposição temporária de relíquias religiosas que teve lugar na Galeria Municipal no Centro Histórico de Ourém. A importante exposição foi inaugurada a 23 de Setembro de 1995 pelos 550 anos da fundação da Sé-Colegiada.

A Colecção foi depois objecto de um estudo aprofundado de 15 anos e nesse tempo estiveram expostas à veneração dos fieis numa caixa de vidro situada na Capela da Regalis Lipsanotheca (Santuário de Relíquias) da Fundação Oureana, juntamente com a caixa de prata contendo o casco da cabeça de Santa Teresa de Ourém (que este ano celebra 800 anos do seu nascimento) e o Relicário Processional do Santo Lenho e do Leite da Virgem (Contendo lascas da Santa Cruz e calcário da gruta do Leite que o IV Conde de Ourém havia supostamente trazido de Belém).

Relíquias da Colecção do IV Conde de Ourém e parte da Cabeça de Santa Teresa de Ourém.

Alias foi esta relíquia controversa da colecção do IV Conde de Ourém, pouco estudada até agora, que levou a acusações por parte de alguns organizadores de grupos Americanos de que a Fundação teria relíquias falsas do “Leite da Virgem” em exposição na sua Regalis Lipsanotheca. Carlos Evaristo esclarece que “o facto é que as relíquias do Leite da Virgem eram nada mais, nada menos, do que pedras de um calcário que descobrimos que absorve o arsénico no vinho quando esmagadas em pó e por isso era algo tido como milagroso e abundantemente importado pelos Nobres na Idade Média sendo venerado em relicários e usado como anti-veneno”.

A Fundação Oureana ficou com a guarda desta Colecção Relíquias Insignes através de um Protocolo e Auto de Depósito com um acordo assinado com a Paróquia, que não só providenciava um local seguro para as mesmas, como também um seguro multi-riscos que previa a Paróquia como beneficiária. Para além de zelar pelas Relíquias e estudar e conservar as mesmas, a Fundação assumia o compromisso de doar anualmente à Paróquia a quantia de 1,500 Euros de donativo para ajuda de manutenção da Igreja Paroquial. Cumpriu essa acordo durante 15 anos e em contra-partida a Fundação podia expor as relíquias em segurança no seu museu de onde saiam somente para uso nas Celebrações Paroquiais.”

Em 2001, a Direcção Geral do Património e a Direcção do Museu Nacional de Arte Antiga, com o Alto Patrocínio da Presidência da República, permitiram que Carlos Evaristo efectuasse um estudo inédito que recolocou a Colecção de Relíquias por ele encontradas em 1995, no Relicário original que se encontra exposto na Sala de Ourivesaria do Museu Nacional de Arte Antiga.

A Recolocação das Relíquias originais no Relicário do IV Conde foi uma intervenção de Carlos Evaristo que demorou sete horas.

A intervenção demorou sete horas e veio revelar erros graves de interpretação e identificação das Relíquias e que se encontravam publicados desde 1918 em edições do Museu Nacional de Arte Antiga e que continuam a ser difundidos largamente por vários historiadores.

Custódia de Belén no MNAA

Para Leonor d’Orey, Conservadora de Ourivesaria do Museu Nacional de Arte Antiga, entretanto falecida mas entrevistada em vídeo em 2001, “A recolocação das relíquias por Carlos Evaristo, foi algo importantíssimo e comprovou não só que as relíquias são as mesmas que foram fotografadas nos finais do Século XIX, como também o relicário foi criado para se formar com relíquias uma adoração dos Santos em torno das Relíquias de Cristo Nosso Senhor e Maria Santíssima colocadas no topo do zimbório, num arranjo que Evaristo revelou ser semelhante aos das figuras na Custódia de Belém.”

Carlos Evaristo na tarefa de colocação das Relíquias no Relicário do IV Conde de Ourém

É sonho de Carlos Evaristo “realizar uma exposição em Ourém com o Relicário do IV Conde de Ourém que está no Museu Nacional de Arte Antiga mas com as Relíquias recolocadas no mesmo. Melhor ainda seria se o Relicário voltasse para Ourém para poder ficar permanentemente exposto na Sé -Colegiada em segurança, algo que a Fundação Oureana estaria disposta a patrocinar,”

O Relicário do IV Conde de Ourém fotografado nó Século XIX ainda com as Relíquias Insignes da colecção de D. Afonso.

“No entanto, hoje desconhece-se em que condição de conservação e de segurança as relíquias se encontram.”

O Presidente da Fundação Oureana esclarece que: “É de lamentar que o Protocolo de Cooperação e Auto de Depósito celebrado entre a Fundação Oureana e a Paróquia em 1995, foi renunciado pela Fundação e todas as Relíquias devolvidas à Paróquia mediante um Auto de entrega assinado, e isto depois de um mal entendido que surgiu por ignorância de várias pessoas da Comissão Fabriqueira logo após a morte do Pároco Revº Padre Carlos Querido da Silva. O desconhecimento levou à circulação de boatos de que essas Relíquias haviam sido roubadas ou vendidas à Fundação ou pela mesma. Foram acusações graves infundadas que não podíamos tolerar e embora o Bispo Diocesano tenha ordenando um esclarecimento público por parte do Administrador Paroquial à época, e que teve lugar, desde então, a Fundação deixou de ter a Paróquia como principal beneficiária, e isto por decisão da viuvá do Sr. John Haffert, embora a mesma ainda possa contribuir pontualmente para necessidades especificas ou angariar fundos para a mesma. Infelizmente a Santa Ignorância continua a ser a Santa com o maior culto hoje à face da terra prejudicando por vezes os planos e relações!”

O estudo inédito das Relíquias do IV Conde de Ourém vai ser agora publicado pela Fundação Oureana através da sua Editora Regina Mundi Press. A história das mesmas será também contada num Documentário norte americano da série “Relic Kingdoms” produzido por Paul Perry Productions em associação com a Produtora da Fundação “Crown Pictures”.

(FOTOS: Arquivo da Fundação Oureana – Reprodução Interdita)

BIBLIOGRAFIA:

Quadros da História de Ourém, A Jóia da Coroa Portuguesa (Português)
AUTOR: Carlos Evaristo
APRESENTAÇÃO: SAR Dom Duarte de Bragança
PREFÁCIO: John Mathias Haffert
(Copyright 2000)
PÁGINAS: 656 Pgs, Ilustrado

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Os Condes de Ourém (Português)
AUTOR: Carlos Evaristo
PREFÁCIO: Dom Duarte de Bragança, Conde de Ourém
(Copyright 2003, 2006)
PÁGINAS: 272 Pgs, Ilustrado

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22 de Setembro de 2020

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