Fundação Oureana celebra Protocolo com o Carmelo de Coimbra para apoio ao Arquivo Irmã Lúcia

Com data de 25 de Março de 2023, aniversário da entrada da Vidente de Fátima no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, foi celebrado entre a Fundação Histórico-Cultural Oureana e o Carmelo de Coimbra / Memorial e Arquivo Irmã Lúcia, o Protocolo Irmã Lúcia de apoio ao Arquivo que irá divulgar e estudar a vida e obra, e preservar o espólio e escritos, da última testemunha das Aparições de Nossa Senhora do Rosário em Fátima.

Protocolo Patrocina Compra de Equipamentos e Mobiliário para o Arquivo Irmã Lúcia

No documento assinado pela Prioresa do Carmelo de Coimbra; Irmã Ana Sofia Maria e da Trindade OCD em representação da Comunidade Carmelita de Coimbra; por Carlos Evaristo, Co-Fundador e Presidente Vitalício da Direcção da Fundação Histórico Cultural Oureana (A Fundação para a Pesquisa Religiosa) e testemunhado por Carlos Miguel Leal Mendes Cardoso, membro do Grupo de Trabalho do Arquivo Irmã Lúcia e pela Técnica de Conservação de Relíquias Responsável e Co-Fundadora da Regalis Lipsanotheca e Apostolado de Relíquias I.C.H.R. (International Crusade for Holy Relics), Margarida Evaristo; ambas as partes comprometem-se a cooperar para a prossecução de projectos, que visem a salvaguarda e a difusão da missão, obra e legado da Irmã Lúcia, recorrendo a Fundação criada pelo grande Apóstolo de Fátima, John Mathias Haffert, aos Benfeitores Subsidiários e Parceiros Protocolares da O.C.I.C. (Ourém Castle Information Centre Protocol Partners) para a angariação de fundos para realizar estes projectos.

Constitui objecto deste Protocolo de Cooperação a realização de um conjunto de acções que visam apoiar o Carmelo de Coimbra na conservação do espólio, mormente com a aquisição de mobiliário especializado e equipamentos electrónicos e informáticos.

Através do Protocolo Irmã Lúcia, a Fundação irá ainda colaborar na conservação do património, na realização de exposições permanentes, temporárias, temáticas ou aniversárias, e ainda, na edição de publicações e material de divulgação e que inclui desde já, a tradução para língua inglesa da Memoriae, publicação periódica do Memorial e Arquivo Irmã Lúcia, assim como demais publicações necessárias ao funcionamento e divulgação do Memorial e Arquivo Irmã Lúcia.

Conservação de Património e Cedência de Relíquias das Aparições e dos Pastorinhos para Exposições

Carlos Miguel L.M. Cardoso

A Fundação Oureana também cederá da vasta colecção de relíquias da Regalis Lipsanotheca, relíquias genuinas das Aparições de 1917 e dos Videntes de Fátima, entre outros objectos; históricos e manuscritos da Vidente, a título de empréstimo para figurarem em Exposições permanentes, temporárias e aniversárias no Memorial e Arquivo da Irmã Lúcia ou para uso em publicações de estudo.

Exposições, palestras, conferências e edições de outros trabalhos esporádicos promocionais estão a ser projectados de acordo com o Protocolo Irmã Lúcia com o objectivo de dar a conhecer a vida e obra da Vidente de Fátima e Carmelita e para a promoção de turismo religioso com o incentivo de atrair peregrinos e estudiosos de Fátima ao Memorial Irmã Lúcia para apoio do Carmelo de Santa Teresa de Coimbra e sua Comunidade.

“Justificação é a longa Historia de Colaboração na Divulgação da Mensagem de Fátima”

Na justificação apresentada por Carlos Evaristo em Assembleia Geral da Fundação Oureana, a 6 de Janeiro de 2023 e aprovada a 19 de Março, o Presidente da Direcção considerou que “a Irmã Lúcia, foi amiga e colaboradora de John Mathias Haffert, Fundador da Fundação Oureana, sendo por isso considerada Co-Fundadora do Exército Azul de Nossa Senhora de Fátima, Fundado em 1947 por John Mathias Haffert e pelo Monsenhor Harold Colgan e hoje conhecido por Apostolado Mundial de Fátima, e que tal como a Madre Teresa de Calcutá, a Vidente de Fátima era devota das Sagradas Relíquias. Foi, não só Benfeitora do Exército Azul, mas também Madrinha e Benfeitora do Apostolado de Relíquias Sagradas I.C.H.R. Por isso a maior justificação para este Protocolo é a longa história de colaboração na Divulgação da Mensagem de Fátima. “

Carlos Evaristo, a Prioresa Irmã Ana Sofia Maria e da Trindade OCD e Margarida Evaristo

O Apostolado Internacional de Relíquias fundado em 1988 está sedeado desde 2000, na Regalis Lipsanotheca (Capela / Museu de Relíquias) da Fundação Oureana no Castelo de Ourém, onde existe a Colecção Irmã Lúcia composta por Relíquias, artefactos e documentos históricos relacionados com a Vidente de Fátima, os Pastorinhos e as Aparições.

Recorda-se que o Presidente da Direcção da Fundação Oureana, serviu de intérprete e tradutor para a Irmã Lúcia, durante a visita ao Carmelo de Coimbra, de vários Cardeais e outras entidades da Igreja Católica e a editora da Fundação Oureana, a Regina Mundi Press, já publicou, a título gratuito, e com o patrocínio da Fundação D. Manuel II, várias obras da autoria da Irmã Lúcia, incluindo a versão, em língua inglesa, da Biografia; A Pathway under the gaze of Mary, da autoria do Carmelo de Coimbra e uma edição do Exército Azul Americano (Apostolado Mundial de Fátima).

Em 2001, o Co-Fundador da Fundação Oureana, a Fundação para a Pesquisa Religiosa, Phillip James Kronzer, havia patrocinado obras de restauro do muro exterior e da fachada do Convento de Santa Teresa e seguidamente, a Fundação promoveu, no Carmelo, uma palestra sobre o Santo Sudário com o título; A Paixão de Cristo e Barbet Revisto, apresentada pelo Presidente do Centro para a Pesquisa Religiosa da Fundação, o Prof. Dr. Frederick T. Zugibe, entretanto falecido.

D. Duarte de Bragança, Presidente do Conselho de Curadores da Fundação e amigo de longa data de John Haffert e da Irmã Lúcia, considerou que “a Fundação como tem por objecto, de acordo com os seus Estatutos; a prossecução de acções de ordem social e religioso e foi criada para que se possa demonstrar os dois mil anos de história e Cultura de Portugal, com especial realce para o Castelo de Ourém e acontecimentos religiosos de Fátima, que tornaram Fátima na Capital Mundial Mariana, pode por isso, desenvolver actividades em lugares com laços religiosos e históricos. Assim sendo, justifica-se o Protocolo com o Carmelo de Coimbra que herdou o espólio pessoal, arquivo documental e relíquias da falecida Vidente de Fátima Irmã Lúcia, a mesma que foi nossa amiga, amiga e colaboradora de John Haffert e Madrinha da Fundação.”

Exposição no Memorial Irmã Lúcia

Para Carlos Evaristo “foi muito o que a comunidade Carmelita já conseguiu fazer praticamente sozinha, tendo construído de raiz um espaço museológico denominado Memorial Irmã Lúcia, as instalações do Arquivo Irmã Lúcia e a edição da biografia oficial da Vidente “Um Caminho sob o olhar de Maria” e ainda, a publicação “Memoriae”. Agora assumimos a responsabilidade de ajudar as Irmãs a concretizar estes e outros projectos futuros para divulgar a vida e obra da Irmã Lúcia e salvaguardar, conservar e estudar o seu espólio, para perpetuar o seu legado pela Paz do Mundo e Salvação das Almas na continuação do grande apostolado que iniciou e manteve durante décadas no silêncio e anonimato do Carmelo. Humildemente assumimos a nossa obrigação de apoiar esta obra com uma profunda gratidão à Irmã Lúcia por todo o que ela fez e deixou como legado.”

Prémio Irmã Lúcia

Simulacrum da Irmã Lúcia na Regalis Lipsanotheca da Fundação Oureana

Já em 1995, a Fundação Oureana, na pessoa do seu Fundador, John Haffert, institui o Prémio Irmã Lúcia para reconhecer o trabalho de pessoas, ou instituições, no Apostolado de Fátima, prémio esse que é entregue com um busto da Vidente. O primeiro exemplar do busto, da autoria do artista Fatimense Abílio Oliveira, foi oferecido à Irmã Lúcia por Haffert e Evaristo, num encontro que teve lugar no Carmelo, em Coimbra, pelo 50º aniversário da entrada da Vidente de Fátima para o Carmelo. Através do Protocolo Irmã Lúcia as atribuições futuras do Prémio serão entregues conjuntamente pela Fundação e o Carmelo de Coimbra.

Vista Exterior do Edifício do Arquivo Irmã Lúcia
Os dois blocos de 20 Estantes Compactas do Arquivo já instaladas no Arquivo Irmã Lúcia

Concluído o Patrocínio das Estantes Compactas para o Arquivo

Na primeira fase do Protocolo, já concluída, a tradução para a língua inglesa da primeira edição da publicação Memoriae que vai agora ser impressa e distribuída exclusivamente pelo Exército Azul (E.U.A.) em acordo já assumido por David Carollo, Presidente do referido apostolado e membro do Conselho de Curadores da Fundação Oureana.

Dave Carollo com a Prioresa Irmã Ana Sofia, o Bispo Joseph Perry e Carlos Evaristo

A Fundação também já conseguiu angariar o patrocínio total para as 20 estantes compactas para Arquivo e Reserva Museológica já instaladas no novo edifício do Arquivo Irmã Lúcia. “

É importante explicar”, segundo Carlos Evaristo, “que todos os fundos angariados vieram directamente da conta dos parceiros protocolares norte americanos para a conta do Carmelo de Coimbra.”

Numa reunião com a Madre Prioresa do Carmelo, Carlos e Margarida Evaristo apresentaram o Tenente Coronel Stephen Michael Cortes-Besinaiz, o Parceiro Protocolar Coordenador do Projecto nos Estados Unidos, juntamente com o recém-falecido Vice-Coordenador, Coronel John Thoma e o Secretário e Contabilista Hung Quoc Nguyen.

Concluída a Tradução para língua Inglêsa da revista “Memoriae”

Stephen Besinaiz, Pedro Renato Ferreira, António Ponces de Carvalho, a Prioresa Irmã Ana Sofia, Carlos Evaristo, Hung Nguyen e John Thoma

Para além dos Benfeitores e Voluntários já referidos, são Parceiros Protocolares do Projecto os Mecenas; Theodore Howard Jacobsen, Christopher, Andrew Campbell Martins St. Victor-de Pinho, Michael David Witter, Scott Wallace Stucky, Will Roseman e Darryl Blatzer.

Stephen Besinaiz, Hung Nguyen e a Prioresa Irmã Ana Sofia com o Relicário agora exposto contendo Sangue da Irmã Lúcia

Patrocínio de Relicários para Conservação de Relíquias Insignes

Durante as visitas ao Carmelo de Coimbra de Delegações dos Executivos do Exército Azul, da Fundação Oureana e dos Representantes dos Parceiros Protocolares O.C.I.C. dos E.U.A., foi oferecido às Irmãs Carmelitas de Coimbra um conjunto de Relicários preparados por Carlos e Margarida Evaristo para conservação e veneração das Relíquias Insignes da Irmã Lúcia de Primeira Classe da Comunidade, tendo na ocasião, António Ponces de Carvalho, da Escola Superior de Educação João de Deus, se comprometido com o apoio técnico escpecializado para os vários projectos e Pedro Renato Ferreira, assumido o patrocínio da segurança dos edifícios e a digitalização de alguns dos fundos do arquivo da Vidente de Fátima, trabalhos que serão efectuados por fases, por uma equipa especializada dirigida pelo Grupo de Trabalho do Arquivo Irmã Lúcia, criado pelo Carmelo de Coimbra para esse efeito, com o acompanhamento de José João Loureiro, Membro do referido Grupo.

29 de Abril de 2023

Fotos: Arquivo Irmã Lúcia / Arquivo Fundação Oureana

A Prioresa Irmã Ana Sofia com Carlos Evaristo no Memorial da Irmã Lúcia
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Dois novos ambientes – assim como seus tesouros até então escondidos – serão de fato revelados ao público pela primeira vez, após um longo e articulado período de estudo, pesquisa, restauração e instalação museológica: a Spezieria di Santa Cecilia em Trastevere e o Salão da Cerâmica.

Museus do Vaticano – Inauguração de duas novas Salas com tesouros até agora escondidos e abertura ao público de Antiga Botica dos Papas

Hoje, dia 25 de Maio, na já habitual quinta-feira dos Museus, os Museus do Papa celebram um duplo evento.

Dois novos ambientes – assim como seus tesouros até então escondidos – serão de fato revelados ao público pela primeira vez, após um longo e articulado período de estudo, pesquisa, restauração e instalação museológica: a Spezieria di Santa Cecilia em Trastevere e o Salão da Cerâmica.

O dia também será enriquecido pela apresentação do primeiro catálogo raisonné da coleção pontifícia de cerâmica medieval e moderna, editada por Otto Mazzucato e Luca Pesante.

A partir de 25 de Maio, todos os visitantes que saiam da Capela Sistina encontrarão, esperando por eles – ao longo do percurso pelas coleções de artes decorativas – as duas novas salas que acabam de ser musealizadas e visíveis através de uma preciosa porta entalhada, atualmente ainda não transitável (acesso em pedido, para estudo ou visita guiada).

Expólio da Antiga Farmácia do Mosteiro de Santa Cecília em Trastevere – Botica dos Papas

O que imediatamente se impõe aos olhos, pela sua beleza e singularidade, é o complexo da antiga Farmácia do Mosteiro de Santa Cecília em Trastevere, que se liga à basílica adjacente que o Cardeal Sfondrati (1560-1618) ocupou durante trinta anos: um exemplo singular de integridade do equipamento boticário em uso contínuo desde o início do século XVII até 1936, ano de sua transferência para o Vaticano a mando do Papa Pio XI.

A mudança repentina de local quase que magicamente interrompeu a atividade da farmácia Trastevere ao longo do tempo e evitou sua dispersão, preservando objetos e ingredientes (muitos dos quais ainda estão contidos nos frascos) usados ​​no passado para a preparação de medicamentos.

Uma porta dentro do antigo boticário, em vez disso, leva à segunda sala, a Sala delle Ceramiche, que também é objeto de uma instalação moderna projetada para hospedar pela primeira vez em sua totalidade e permanentemente a coleção vaticana de cerâmicas medievais e modernas, tão bem documentado no catálogo recém publicado pela Edizioni Musei Vaticani.

Em exposição, entre as obras mais significativas, além dos 34 preciosos pratos historiados da Colecção Carpegna (já expostos na Pinacoteca do Vaticano em 2018 e em Castel Gandolfo entre 2019 e 2021), a baixela medieval em cerâmica fina, a raríssima exemplos de tijolos de piso em majólica arcaica ou a série de pisos Della Robbia que faziam parte do piso do Vaticano Logge conhecido como “Raphael”.

FONTE:

25 de Maio de 2023 – Tradução: Capítulo para Língua Portuguesa do Gabinete dos Patronos dos Museus do Vaticano

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Fundação Oureana deu Parecer sobre Reliquias e Ritual da Coroação

A Coroação do Rei Carlos III

A Inglaterra vai hoje reviver um dos rituais mais antigos da história da Europa Cristã, a Sagração e Coração do novo Monarca, neste caso o de Carlos III, Rei da Grã Bretanha e do Reino Unido. Consultamos Carlos Evaristo*, especialista em relíquias e em rituais de coroação para saber mais a cerca destas tradições pouco conhecidas.

Por Humberto Nuno de Oliveira

Carlos III com a Regalia de Príncipe de Gales

O RITUAL DA COROAÇÃO
De acordo com Carlos Evaristo, “É irónico que a Inglaterra seja um país que deixou a obediência Católica no Reinado de Henrique VIII, se tenha tornado numa Monarquica Constituicional no tempo do Rei Carlos
II, mas que seja hoje o único Reino no mundo que ainda segue um Ritual Católico Medieval para a Coroação dos seus Monarcas. Ritual pleno de simbolismo e mistério com recurso a Relíquias, Santos óleos e toda a Regália (Jóias da Coroa), num modelo instituído pelo Rei São Luís IX da França e pelo Imperador Carlos Magno, tradições Católicas que tecnicamente deviam de ter sido abolidas quando da
reforma cismática que fez dos Soberanos Inglêses, Chefes Supremos da Igreja Católica dita Anglicana”.

“O Ritual da Coroação remonta a tradições bíblicas, da Coroação e Unção dos Reis David e Salomão, Santos Reis de Israel e antepassados de Cristo na Realeza Sacerdotal do Antigo Testamento. É esse o
Direito Sagrado a Reinar que hoje só os Reis de Inglaterra ainda revindicam com todo este Ritual que envolve a Sagração do Monarca com Santos Óleos enquanto está ocultado debaixo do Pálio, a Investidura com camisa de ouro e Manto de arminho, a colocação do anel de estado no dedo anelar direito e o uso de umas pulseiras de ouro.

A Bênção e Entronização sob Trono com uma Relíquia e a Coroação com Coroa, segue-se a colocação nas mãos, da Orbe e dos Ceptros. O toque nas esporas de ouro e o elevar da espada representa que o Monarca deverá ser Defensor da Fé Cristã e o Grã-Mestre das Ordens de Cavalaria e Chefe e Fons Honorum de toda a Nobreza com poder para armar Cavaleiros e conferir títulos. No entanto mudanças ao Ritual da Coroação foram feitas pelo Rei Carlos III que fazem com que a cerimónia que demorava cinco horas, fosse agora reduzida para hora e meia.”

Carlos III foi coroado Príncipe de Gales, em 1969, por sua mãe, Isabel II

Atentemos, pois, nas partes deste complexo ritual.
I. A Apresentração e Aclamação
Esta é a primeira parte do Ritual que apresenta o Rei aos quatro cantos da Igreja, que representam os
quatro cantos do Reino. Os arautos tocam trombetas e gritam: “Eis o vosso mui Nobre Servo Principe…”,
ao que respondem os presente com gritos de: “ Viva o Rei!”.

II. A Unção e o Toque Real
A unção é a parte mais misteriosa e sagrada do Ritual da Coroação. Realizada pelo Arcebispo de Cantuária, de modo oculto, por baixo de um pálio suportado tradicionalmente por Cavaleiros da Ordem
da Jarrateira, tradição que Carlos III alterou ao escolher outros Nobres para segurar as varas. O Rei é ungido com Santos óleos, na fronte, no peito e nas palmas das mãos e assim sagrado com o tradicional Poder Sacerdotal; “o Toque Real” para abençoar, curar e absolver pecados. Óleo ainda hoje preparado e benzido no Santo Sepulcro de Jerusalém por um Bispo Anglicano para assim simbolizar a Realeza Davidica e Solomónica de Cristo que será transmitida espiritualmente ao
Monarca por via do Espírito Santo.

III. A Entronização e Coroação na Cadeira de Santo Eduardo e a Pedra de Scone ou do Destino

Depois de vestido com o Manto de Arminho, as Braceletes de ouro (que representam a força de Sansão)e outras Insígnias como o anel, o Monarca é Coroado com a Coroa de Santo Eduardo, na Cadeira de Santo Eduardo, o chamado Trono do Confessor, debaixo da qual é colocada a Pedra da Coroação ou de Scone, simbolizando o Destino, uma pedra com duas argolas em ferro que a tradição diz ser a Relíquia da Almofada do Profeta Jacó.

A Pedra de Scone pesa 125 quilos e veio da Terra Santa durante as Cruzadas. Faz parte da Regália dos Reis da Escócia, hoje parte do Reino Unido.

Foi levada para a Inglaterra há séculos, sendo usada pelos Monarcas da Grã Bretanha e Reino Unido quando das Coroações.

A mesma relíquia foi devolvida pela Rainha
Isabel II ao Castelo de Ediburgo, na Escócia, em 1996, após os Escoceses a terem roubado da Catedral de Westminster, em sinal de protesto contra a sua permanência em Londres.

Usada pela última vez em 1953, esta Relíquia foi enviada para Londres na passada quinta feira dia 27 de Abril, após uma Cerimónia de Trasladação presidida pelo Lord Lyon da Escócia e seus asistentes; Carrick e Falkland, Guardiães das Insígnias desse Reino e da Pedra de Scone, a Relíquia mais preciosa do Reino Unido.

Lord Lyon da Escócia com Carrick e Falkland

Antes da partida para Londres a pedra foi analisada por um grupo de estudiosos. Uma análise com luzes
infra-vermelhas revelou algumas inscrições antias que poderão revelar a sua origem e verdadeira
natureza. O Professor Mark Hall do Museu de Perth e a Professora Sally Foster do Departamento de
Património e Conservação da Universidade de Sterling fazem parte do grupo de estudo e revelaram
haver o que parecem ser cruzes romanas gravadas na pedra e vestígios de gesso policromado.

Num parecer enviado para o grupo que estuda a pedra, o Perito em Relíquias, Carlos Evaristo, afirma que “todos os sucessores dos Reis e Bispos que participaram nas Cruzadas, quando da queda do Reino Latino de Jerusalém, nomeadamente os Monarcas de França, de Espanha e do Sacro Império, passaram a intitular-se Reis de Jerusalém e faziam-se coroar sob caixas de terra ou pedras trazidas da Terra Santa incorporadas em Tronos e Cadeirões”. Este modelo de cadeira-relicário medieval foi criado por Carlos Magno e pensava-se que dele emanava o poder Davídico e Salomónico para governar, direitos sagrados simbolizados na pedra trazida da Terra Santa.

Na Regalis Lipsanotheca, uma Capela de Relíquias de estílo medieval que Carlos Evaristo criou no
Castelo de Ourém, no ano 2000, e que conta com o Alto Patrocínio da maior parte das Casas Reais da
Europa, que existe entre a colecção de milhares de relíquias que pertenceram a Reis e Imperadores,
uma raríssima Cadeira de Coroação do Século XVI que ainda conserva por baixo uma pedra reivindicada
como sendo do Muro do Templo de Jerusalém. Refere Evaristo, “Hoje apenas os Monarcas da Grã-Bretanha e de Espanha ainda se dizem «Rei de Jerusalém», embora apenas os Reis da Inglaterra sejam coroados numa Cadeira de Coroação ou Trono de Sabedoria com Relíquia.

O Lord Lyon com a Pedra de Scone antes da sua recolocação na Cadeira da Coroação

Uma análise feita à Pedra da Cadeira de Coroação que existe na Colecção da Regalis Lipsanotheca no castelo de Ourém revelou que a mesma é composta de uma típo de granito azulado proveniente do Sul de Israel.

A Regália do Reino da Escôcia


Para Evaristo, “Se a Pedra de Scone, não é da muralha do Templo de Jerusalém, do Santo Sepulcro ou do
Monte do Calvário, então poderá ser mesmo, como a tradição diz, uma pedra da Igreja que assinala o local onde o Profeta Jacó teve o sonho de anjos a acenderem e a descerem do céu por via de uma escadaria dourada. Os vestígios de gesso policromado na pedra e as cruzes gravadas certamente por peregrinos, poderão defender essa ideia pois há uma semelhança com as pedras da Santa Casa de Nazaré que os Senhores Feudais trouxeram para a Europa para criarem réplicas da casa à escala real”.

O Ritual da Coroação Inglês que foi usado pelo Rei Filipe I em Tomar “Era nestas Cadeiras”, que segundo Evaristo, “eram Coroados ou Entronizados, não só Reis, mas também os Bispos, Duques e Grão-Mestres de Ordens de Cavalaria como a Ordem dos Templários, e mais tarde, a sucessora que foi a Ordem de Cristo. Entre outros títulos ques estes senhores apresentavam estava também o de «Rei e Senhor de Jerusalém». Esta foi uma prática que se manteve viva muito antes da queda do Reino Latino de Jerusalém. Provinha de uma tradição muito mais antiga de colocar relíquias nos tronos, algo iniciado pelo Imperador Carlos Magno, depois copiado na Capela de Relíquias da Sainte Chapelle pelo seu descendente São Luis IX Rei da França e seguidamente pelos Senhores Feudais de toda a Europa incluíndo os Monarcas Ingleses. Esta prática está retratada na cena do falso juramento de Harold na famosa Tapecaria de Bayeux”. “Os Portugueses viviam muito esta tradição e criaram no Convento de Cristo em Tomar uma Réplica do Santo Sepulcro, como seria à época, completo com Relíquias vindas da Terra Santa colocadas em altares e em Relicários por cima dos arcos da Charola. Foi nessa Charola que o primeiro Rei Filipe da Dinastia Filipina repetiu este Ritual quando se fez Sagrar e Coroar Rei de Portugal em 1580. Mais tarde ofereceu para o Convento um Relicário precioso com um Espinho Sagrado da Coroa de Espinhos de Cristo e que está hoje no Tesouro da Sé de Lisboa.

Os elementos da Regália
A Regália, como se chama o conjunto de Jóias da Coroa: a Coroa ou Coroas, a Orbe, os Ceptros e outras
Insígnias usadas na Coroação dos Monarcas, é algo cujo desenho e simbolismo histórico é exclusivo a
cada Reino. A Regália Inglêsa, que incorporava peças dos tempos dos Reis Anglo-Saxónicos, foi destruída
em 1649 depois da execução do Rei Carlos I e a Proclamação da República Inglêsa, mas já durante a
década de 1620, dificuldades financeiras levaram Carlos I a leiloar muitos tesouros da Jewel House na
Torre de Londres, embora ele não tenha vendido as principais peças.


Desentendimentos com o Parlamento, cedo se transformaram em Guerra Civil e, depois de 1642, os oponentes do Rei avidamente tomaram posse das Jóias da Coroa. Após a execução de Carlos I no mesmo ano, todas as peças de ouro da Regália foram vendidas para financiar o novo governo, enquanto as insígnias da Coroação de Santo Eduardo, os símbolos da Monarquia, como instituição sagrada, foram
derretidos na Casa da Moeda para se cunhar moeda. Foi o ourives real Robert Vyner quem foi encarregado de criar novas peças para a Regália usada na
Coroação do Rei Carlos II em 1661 e são essas as peças em uso até hoje.

As primeiras descrições sobreviventes de uma coroação Inglesa datam de antes de 1000 a.C. e incluiam
o uso de coroas, anéis e ceptros, que tal como em todos os Reinos da Europa, eram confeccionados de
novo para uso exclusivo de cada Monarca. Foi após o Reinado de Santo Eduardo, o Confessor ,que surgiu
a tradição de haver uma única colecção de Regália Sagrada.

Cem anos após sua morte, Eduardo foi declarado Santo, e os objetos relacionados a ele passaram a ser “Relíquias Sagradas”. A Coroa do Santo que foi usada na Coroação de Henrique III em 1220 foi depois cuidadosamente usada para uso pelos futuros Monarcas. Esta coroa foi depois acompanhada por uma série de outras Coroas menores incluindo uma de duas hastes e uma colher de ouro para Unção do Monarca.

Coroação de Carlos II em 1661

As peças antigas que sobrevivem foram usadas em todas as Coroações durante mais de 500 anos e as
outras foram foram recriados para a Coroação de Carlos II em 1661.


A Colher e a Ampula de Unção
Para Carlos Evaristo “é irónico que o único item da Regália Medieval a sobreviver fosse a Colher da
Unção conhecida também por Colher da Coroação e que data do século XII”.

É nela que se deita um pouco de óleo benzido em Jerusalém que o Arcebispo toma no seu polegar direito para ungir o Monarca.

A ampula feita em forma do Espírito Santo relembra a Unção do Rei David, o Crisma Sagrado e a Lenda da Pomba Milagrosa de São Tomás Beckett.
A cabeça da águia é removível, havendo uma abertura no bico para derramar o óleo. O seu estilo é baseado numa peça anterior que recordava uma lenda do século XIV em que a Virgem Santa Maria teria aparecido a São Tomás Beckett e presenteado-o com uma águia dourada e um frasco de óleo para ungir os futuros Reis de Inglaterra.

Segundo Carlos Evaristo “a lenda baseia-se noutra mais antiga, contada acerca da Coroação do Rei Clovis da França pelo Arcebispo de Reims, São Remígio, no ano de 496. De facto havia uma ampula de vidro em forma de pomba que se enchia milagrosamente com óleo (líquido turvo) antes da Coroação de cada Rei (ou não). Na realidade, uma espécie de desumidificador natural, criado por monges na Idade Média, e que absorvia a humidade na Catedral de Reims para espanto dos fieis”.

O óleo da ampola é derramado na Colher de Unção no momento mais sagrado da Coroação. O Ritual de Unção remonta ao Livro dos Reis do Antigo Testamento, onde é descrita a unção de Salomão como Rei por Zadoc o Sacerdote.

A Coroa de Santo Eduardo
A Coroa de Santo Eduardo é a coroa usada no momento da Coroação. A que existe hoje foi mandada fazer em 1661 para substitutir a que foi derretida em 1649. A original era do Século XI, e pertenceu, tal como o Trono e Cruz-Bastão ao mesmo Rei Santo Eduardo, o Confessor, aquele que foi o último rei Anglo-Saxónico de Inglaterra.


A Coroa foi criada por Robert Vyner segue o padrão original da Coroa de Santo Eduardo, daí o seu nome. Pesa 2,07 kg e é decorada com rubis, ametistas e safiras. Tem quatro cruzes páteas e quatro flores-de-lis e dois arcos.

É composta por uma moldura de ouro maciço cravejada de rubis, ametistas, safiras, granadas, topázios e turmalinas e por dentro tem um barrete de veludo roxo com uma faixa de arminho que representa o antigo barrete de “Defensor da Fé” dado pelos Papas na Idade Média aos Monarcas que recebiam o título de “Dux Pontífício”.

(Imperadores Hapsburgos, o Rei D. Manuel I de Portugal e até do Rei Henrique VIII antes de cismar)


As Coroas forradas de veludo “Carmesim Português”
No estudo que Carlos Evaristo fez sobre as tradições da Coroação, descobriu que o uso de um forro de
veludo nas Coroas Europeias foi algo que nasceu do uso combinado da Coroa do Monarca com o Barrete
Cardinalício (Vermelho) ou o Barrete de Dux Pontifício (Roxo) que o Rei Carlos II de Inglaterra uniu de
forma permanente em 1661. Foi um estilo que posteriormente a sua viúva, a Rainha Catarina de
Bragança, trouxe para Portugal.

Coroa mandada fazer por D. João VI

O Barrete Cardinalício era símbolo da Sagração e Unção dos Reis que os colocava em grau de
equivalência aos Cardeais como Príncipes da Igreja. Esse Barrete chamado de “Cap of Maintenance” ou Chapéu da Manutenção (Saberdoria) ainda é levado em Procissão durante as Coroações e chama-se o “Chapéu de Sabedoria” sendo que a cor ficou conhecida por “Portuguese Crimson” ou “Carmesim Português”, isto porque foi a partir de Portugal que a tradição de se forrar as coroas de veludo passou para todas as Coroas dos Monarcas Católicos da Europa.

Cap of Maintenance

A Coroa Imperial e a ligação Portuguêsa
Uma das peças da Regália Inglesa quetem ligação a Portugal é o chamado Rubi do Principe Negro, um
espinélio que é uma das jóias mais antigas da Coroa e que está hoje incorporada na Coroa de Estado ou
Coroa Imperial do Reino Unido.

Esta é uma jóia com uma história que remonta a meados do século XIV quando Pedro de Castela, chamado “O Cruel” ou “O Justo”, a adquiriu ao conquistar Sevilha. Foi retirada ao cadaver de Abū Sa’īd, Príncipe de Granada. É um rubi grande e irregular espinélio cabochão vermelho pesando 170 quilates (34 g) e que estaria incorporado num Colar de Regente usado por esse Principe.


Pedro de Castela, filho da Princesa D. Maria e por isso neto do Rei D. Afonso IV de Portugal, refugiou-se em Portugal quando em 1366 rompeu a guerra civil com seu meio irmão D. Henrique de Trastâmara. O
monarca que trouxe com ele as Jóias da Coroa foi recebido pelo seu tio, D. Pedro I a quem prometeu este magnífico rubi caso o ajudasse com um exército contra o ursurpador.

Mas o Rei de Portugal recusou-se ajudá-lo e Pedro de Castela aliou-se então ao Príncipe Negro, filho de Eduardo III de Inglaterra. A revolta do Príncipe Henrique foi reprimida com sucesso e depois da vitória o Príncipe Negro exigiu o rubi em troca dos serviços que havia prestado.

Mas o Rei recusou e só mais tarde, quando o Príncipe Negro voltou de Inglaterra para levar as duas filhas do Rei; Dona Constânça de Castela e Dona Isabel de Castela, para contrairem casamento com os dois irmãos do Rei, é que o
Príncipe Inglês terá levado o rubi amaldiçoado como dote, embora o mesmo tenha desaparecido dos registros históricos até 1415.

Para Carlos Evaristo esse é o ano em que a Rainha Filipa de Lencastre faleceu e por isso o mesmo acha que pode por isso ter sido oferecido à mesma pelo pai, João de Gand, Duque de Lencastre e sua mulher a Infanta D. Constânça de Castela, quando do casamento com o Rei de Portugal D. João I em 1387 e depois devolvida à Coroa Inglesa por testamento.

Casamento de D. João I com Filipa de Lencastre

A jóia que diz ter sido amaldiçoada pelo Príncipe de Sevilha, ficou com a Família Real Inglesa que a usou em colares e jóias até ao Século XIX, até que no reinado da Rainha Vitória, foi incorporado na cruz pátea
acima do diamante Cullinan II na frente da Coroa do Estado Imperial do Reino Unido.

A Coroa do Estado Imperial actual, foi porém refeita para a Coroação do Rei Jorge VI em 1937, substituindo a Coroa anteriormente feita para a Rainha Vitória. A Coroa é cravejada com 2.868 diamantes, além de várias jóias famosas como a Safira de Santo Eduardo, que dizem ter sido usada num anel por Eduardo, o Confessor. A Coroa também inclui o diamante Cullinan II, a segunda maior pedra cortada do grande Diamante Cullinan que antes de ter sido partido era o maior diamante jamais descoberto.

A Coroa do Estado Imperial é usada pelo Monarca quando deixa a Abadia de Westminster na Carruagem
de Ouro após a Coroação. Ao ser Coroado com a Coroa de Estado Imperial, hoje também conhecida por
Coroa do Commonwealth, o Monarca inglês dispensa ser coroado com a Coroas dos outros Reinos do
qual também é Monarca; como é o caso da Escócia, Irlanda do Norte e Gales e ainda de outros Domínios
como o Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Gibraltar que não possuem Regalia própria.

Jorge VI foi o último Rei a usar o chamado “Cap of Maintenance” após a Unção


Outras Coroas
Houve outras Coroas pessoais mandadas fazer pelos Reis e Rainhas de Inglaterra e algumas das que
sobrevivem são adornos extravagantes.

A mais extravagante de todas era a Coroa de Diamantes do Rei Jorge IV feita especialmente para a Coroação do pai da Rainha Vitória em 1821.

Jorge IV com a sua Coroa de Diamantes

Ornada com 12.314 diamantes, alguns provenientes de minas do Brasil Português, a Coroa fazia o Rei
parecer um “lindo pássaro do leste” pois era de desenho russo e baseada na Coroa de Diamantes dos
Czares. Uma inovadora moldura de ouro e prata foi criada por Philip Liebart da Bridge & Rundell e
projectada para ser quase invisível. Sob a mesma estava um barrete de veludo azul- escuro em vez de
carmesim Português ou roxo imperial.

Houve porém um adiamento à Coroação de Jorge IV devido a um julgamento a que esteve submetida a
esposa, a Rainha Carolina. O Rei que no final não teve dinheiro para pagar a Coroa teve de alugar pedras preciosas para a poder usar na Coroação e depois fazer-se representar com ela ao lado num quadro a
óleo oficial. A conta final para o aluguer de pedras para usar na coroa foi de £ 24,425.00.

Isabel II foi Coroada em 1953

Após a sua Coroação, o Rei mostrou-se relutante em desfazer-se da sua nova Coroa e pressionou o
governo a comprá-la para que ele a pudesse usar na abertura solene anual do Parlamento. Mas como
era muito cara, a Coroa foi desmantelada em 1823. O Rei Jorge como recordação comprou o modelo da
armação em bronze pelo modesto preço de £ 38, que hoje se encontra na torre de Londres com uma
inscrição ao lado onde se pode ler “Armação da rica Coroa Imperial de diamantes com a qual Sua
Santíssima Majestade o Rei Jorge IV foi Coroado a 19 de Julho de 1821″.

A armação da Coroa passou para a família Amherst que a emprestou ao Museu de Londres entre 1933 e 1985 altura em que foi a leilão tendo sido comprada em 1987 por Jefri Bolkiah, Príncipe de Brunei.

O novo dono apresentou ao Reino Unido um pedido de exportaçãoda armação para os Estados Unidos, pedido esse que foi negado durante uma análise do Comité de Revisão da Exportação de Obras de Arte.
Adquirido pela Crown Trust, a armação faz parte da Royal Collection da Torre de Londres.

Diamantes no valor de £ 2 milhões foram emprestados pela De Beers e são exibidos ao lado da armação para dar aos
visitantes uma ideia de como teria sido originalmente a peça mais extravagante que alguma vez existiu na Regália Inglesa.

Quando da Coroação do Rei Jorge V descobriu-se que algumas das pedras preciosas das Coroas do
Reino eram feitas de vidro de cor lapidado e não eram jóias verdadeiras. Estas pedras falsas foram
substituidas por verdadeiras por Jorge IV.

O Orbe
O Orbe é uma bola de ouro encimada por uma cruz, que representa o poder temporal do Soberano que
proveniente de Cristo Rei. Simboliza o Mundo Cristão com uma Cruz montada sobre o globo terrestre.
As faixas de jóias que o dividem em três secções representam os três Continentes conhecidos na época
Medieval.

Montado com cachos de esmeraldas, rubis e safiras rodeados por diamantes rosa e fileiras únicas de pérolas. Uma cruz no topo é cravejada com diamantes em talhe rosa, com uma safira no centro de umlado e uma esmeralda no outro e com pérolas nos ângulos e no final de cada braço.

O Orbe é benzido no Altar onde permanece até ao momento da Coroação em que é colocada na mão direita do Monarca que é assim investido com o Símbolos da Soberania Divina de Cristo Rei.

Os Ceptros
Os Ceptros representam os poderes do Rei; Temporal e Espiritual. O Cepto principal da Regália é o do Soberano e tem uma Cruz que tem sido usada desde 1661 em todas as Coroações. Contêm o magnífico diamante Cullinan I, o maior diamante lapidado incolor do mundo colocado em 1911 pelo Joalheiro Real Garrard que teve de reforçar a peça para suportar peso.

O Ceptro encimado pela Pomba, simbolizando o Espírito Santo e também foi criado para Carlos II. representa o papel espiritual do Soberano como Chefe da Igreja Anglicana e por isso é também conhecida como “ Vara de Equidade” ou “Cepto da Misericórdia”.

Um terceiro Ceptro da Regália foi criado para uso exclusivo das Rainhas Consorte.

Os Armilares ou Pulseiras da Força de Sansão
Os Armilares são pulseiras de ouro usadas pela primeira vez em Coroações Inglesas no século XII. No
século XVII, os Armilares deixaram de ser usados pelo Monarca, que passou somente a tocá-las na
Coroação.

Mas um novo par de pulseiras foi criado para a Coroação de Carlos II, em 1661 e têm 4 cm de largura, 7 cm de diâmetro com champlevé esmaltados na superfície com rosas, cardos e harpas (os símbolos
nacionais da Inglaterra, Escócia e Irlanda), bem como flores-de-lis.

Para a Coroação de Isabel II, em 1953, a tradição medieval foi revivida e um novo conjunto de pulseiras
de ouro liso em 22 quilates forradas com veludo carmesim português, foi apresentado à Rainha em
nome de vários governos da Commonwealth. Cada pulseira é equipada com uma dobradiça invisível e
um fecho em forma de Rosa Tudor. A marca inclui um pequeno retrato da Rainha, que continuou a usar
estes armilares ao deixar a Abadia, podendo ser vista usando-os também mais tarde, juntamente com a
Coroa do Estado Imperial e o Anel de Soberana, na sua aparição na sacada do Palácio de Buckingham.
Não se sabe se o Rei Carlos III vai tocar ou usar Armilares.


A Espada de Estado
Existem várias Espadas de Estado na Regália da Coroação de Inglaterra e estas refletem o papel do
Monarca como Defensor da Fé e Chefe das Forças Armadas; a Espada da Misericórdia (também
conhecida como Curtana), a Espada da Justiça Espiritual e a Espada da Justiça Temporal. Foram fornecidas na época de Jaime I entre 1610 e 1620, por um membro da Worshipful Company of Cutlers, usando lâminas criadas na década de 1580 pelos cuteleiros Italianos Giandonato e Andrea Ferrara.


Foram depositadas com as Insígnias de Santo Eduardo na Abadia de Westminister por Carlos II. A Espada
de Estado de duas mãos, feita em 1678, simboliza a autoridade do Soberano e também é carregada
perante o Monarca nas Aberturas Estatais do Parlamento.

A Espada de Estado Irlandesa é do século XVII e foi mantida pelo Lord Lieutenant of Ireland (um vice-rei) antes da independência da Irlanda do Reino Unido em 1922. Está exposta na Jewel House desde 1959.

O cabo tem a forma de um leão e um unicórnio e é decorada com uma harpa celta. Cada novo vice-rei era investido com a espada no Castelo de Dublin, onde geralmente ficava nos braços de um trono, representando o rei ou a rainha em sua ausência.

Foi carregado em procissão na frente dos Monarcas durante suas visitas oficiais a Dublin. Em Junho de 1921, a espada esteve presente na abertura oficial do Parlamento da Irlanda do Norte por Jorge V.

A espada foi exibida no Castelo de Dublin em 2018 como parte da exposição ‘Making Majesty’, sendo a primeira vez que esteve na Irlanda em 95 anos.

As Esporas de São Jorge
As Esporas que existem hoje foram também feitas para Carlos II e são de ouro maciço, ricamente
gravadas com padrões florais e pergaminhos. Têm tiras de veludo carmesim português bordadas em
ouro. Ambos os pescoços terminam com uma Rosa Tudor com uma ponta no centro.

São símbolo da Cavalaria e denotam o papel do Soberano como Chefe das Forças Armadas e Grão Mestre das Ordens e com o poder de Investir Cavaleiros. Sabe-se que Esporas de ouro foram usadas pela primeira vez em 1189 na Coroação de Ricardo I, embora seja provável que tenham sido introduzidas por Henrique, o Jovem Rei, em 1170, e esse elemento do
Ritual foi provavelmente inspirado na Cerimónia de Investidura dos Cavaleiros.

Um par de esporas douradas, de meados do século XIV, foi adicionado às Joias de Santo Eduardo na Abadia de Westminster em 1399, e usadas em todas as Coroações até sua destruição em 1649.
Historicamente, as esporas eram presas às botas de um Monarca, mas desde a Restauração que elas são
simplesmente roçadas nos calcanhares dos Soberanos ou mostradas às Rainhas.

No túmulo recém aberto do Rei D. Dínis, em Odivelas, o esqueleto do Monarca foi encontrado com
vestígios de esporas que terão sido sepultadas com ele.

O Bastão Relicário oferecido a Catarina de Bragança por Carlos II e Relíquia para um novo Bastão –
Relicário oferecida pelo Papa Francisco ao Rei Carlos III

A tradição de Sagrar os Monarcas e de os abençoar com Relíquias foi algo que se perdeu na Inglaterra
depois do Cisma de Henrique VIII e no resto da Europa com a abolição dos monarcas absolutos. A
reforma de Cromwell e a implementação da Monarquia Constituicional no Século XVII destruiu a maior
parte das Relíquias no Reino Unido e acabou com o uso da Cruz Bastão do Monarca contendo Relíquias.
Mas o Papa Francisco veio agora mudar tudo isso ao oferecer ao Rei Carlos III para a sua Coroação, dois
pedaços da Relíquia do Santo Lenho, a Relíquia da Madeira da Cruz de Jesus Cristo, uma Relíquia Insigne
trazida para Roma pela Imperatriz Mãe Santa Helena para adornar a Regália Imperial de seu filho
Constantino, o primeiro Imperador Cristão.

Carlos Evaristo é perito nessa história e conhece bem as Relíquias da Colecção Imperial de Relíquias guardada na Basílica Romana da Santa Cruz “em” Jerusalém, (assim chamada por estar construída sobre toneladas de terra do Monte do Calvário trazida pela Imperatriz). Evaristo vê neste gesto de Francisco, que passou despercebido a muitos, algo de extraordinário pois restaura na Monarquia Inglesa algo de
Sagrado que foi perdido com o protesto de Henrique VIII e nunca mais retomado após a implantação da República Inglêsa. O uso pelo Monarca de uma Cruz-Relicário Processional ou Bastão-Relicário era algo semelhante ao uso das Cruzes Processionais e Báculos pelo Papa e os Bispos.

Estas cruzes tinham nelas uma relíquia com que o Rei conduzia espiritualmente o seu rebanho “Católico” para Cristo, o Bom Pastor. A chamada Cruz de Santo Eduardo, o Bastão – Relicário em uso desde os tempos dos primeiros Reis Anglo-Saxónicos Cristãos foi supostamente oferecido pelo 1º Arcebispo de Cantuária mas perdido pelo Rei Ricardo, Coração de Leão, quando esse foi capturado e mantido refém durante as Cruzadas.


Foi depois substituído pelo Bastão – Relicário de Santo Tomás Beckett, o Arcebispo de Cantuária, morto
em 1170 por soldados do Rei Henrique II, que ao ouvirem o Monarca dizer em tom de lamento; “quem é
que me livra deste bispo medonho?” trataram de o assasinar.

Para relembrar aos Monarcas Inglêses essa tragédia, a Relíquia do Báculo ensanguentado do Arcebispo Mártir foi revestido de prata e passou a ser a Cruz-Bastão dos Reis do Reino Unido. Usada a última vez na Coroação do Rei Carlos I a relíquia foi depois oferecida por Carlos II à sua mulher, a Rainha Catarina de Bragança, que a levou consigo para Portugal depois de ficar viúva. Está hoje na Colecção do Paço Ducal de Vila Viçosa.
Existe um outro Bastão o Chamado Saint Edward’s Staff que é uma bengala de ouro cerimonial de 1,4
metros de comprimento (4,6 pés) feita para Carlos II usar em 1661. Não tem relíquia e é de um modelo
simples com uma cruz no topo e uma lança de aço na parte inferior.

É uma cópia da longa vara mencionada na lista de placas e joias reais destruídas em 1649, embora a versão pré-Interregno fosse um Bastão-Relicário de ouro e prata encimada por uma pomba e contendo uma relíquia que era colocada no Altar durante a Coroação.

A Relíquia agora oferecida pelo Papa já foi colocada por ordem do Rei Carlos III numa cruz de prata Celta oferecida em 2021 por Francisco e agora transformada pelos Ourives Reais numa nova Cruz-Bastão, o primeiro Relicário a ser usado por um Monarca em mais de 400 anos.

Outras Insígnias Reais usadas na Coroação

Durante o serviço de Coroação, o novo Soberano é também apresentado com vários ornamentos que
simbolizam a natureza espiritual da realeza. Estes incluem mantos, um anel, maços de guerra (chegou a
haver 16 maços mas hoje só sobrevivem 13), trombetas de aclamação e outras coroas e ceptros
menores que se destinam a ser utilizados pelas Rainhas Mãe, Consortes e pelo Príncipe de Gales e
Príncipes de Sangue Real.


A Copa ou Cálice da Fortaleza
É costume o novo Monarca oferecer para a Abadia de Westminister em sinal de agradecimento pela sua
Coroação, um conjunto de Cálice e Patena para culto Eucarístico. Esta tradição Europeia segundo Carlos Evaristo era baseada na Lenda do Santo Graal, o Cálice da última Ceia de Cristo que ficou popularizado no Culto Graalico do Conto Medieval do Rei Artur. Segundo uma lenda Medieval esta Relíquia terá sido levada para Inglaterra por São José de Arimateia e guardada na Abadia de Glastonbury onde os Reis de Inglaterra iam beber do mesmo para receberem a Sabedoria Salomónica. Mas tudo isso é lenda pois o único Graal reconhecido pela Igreja Católica como tal é o Cálice da Catedral de Valência que fazia parte das joias da Coroa dos Reis de Aragão.

Carlos Evaristo examina o Santo Cálice de Valência

O Santo Calíce de Valência incorpora uma copa de pedra do Século I que um estudo arqueológico identificou como sendo um copo pascal judaíco e que pode muito bem ter sido usado por Cristo antes de ter sido transformado num Cálice ornamentado pelo Sultão do Egipto na Idade Média. É durante a Coroação dos Reis de Inglaterra que os Cálices, Patenas e Pratos Litúrgicos anteriormente oferecidos à Abadia de Westminister por Monarcas antecessores, são exibidos no Altar para relembrar a Realeza Sacerdotal de Malquisedec, Rei de Salem e Sacerdote de El Elyon referido no Antigo Testamento. Outro Santo invocado é Zadoc cujo Arcebispo simboliza durante a cerimónia. Zadoc era o Sacerdote que ungiu David e Salomão tal como relembra letra da Música do mesmo nome composta por Jorge Handel para a Coroação do Rei Jorge II em 1727, e que será cantada na Coroação de Carlos III.

A REGÁLIA DA RAINHA CAMILA
Quanto à Rainha Consorte Camila sabemos que o título confirmado pela Rainha Isabel II para a esposa
do futuro Rei por ordem do mesmo deixará de ser usado após a Coroação pois quer Carlos III que seja
Rainha de facto.

Camila vai ser também coroada com uma Coroa que pertenceu à Rainha Maria, mulher de Jorge V e que
foi modificada com a colocação dos Diamantes Cullinan III, IV e V, pedaços menores dos Diamantes Cullinan I e II que estão na Regália do Rei e que Isabel II mandou transformar em pendentes de alfinete.

A modificação da Coroa deve-se ao facto de que o Palácio de Buckingham confirmou em Fevereiro que o diamante Koh-i-Noor não faria parte da Coroação do Rei Carlos e da Rainha Camilla.


O grande diamante foi dado à Rainha Vitória em 1849 como condição do Tratado de Lahore, que encerrou a primeira Guerra Anglo-Sikh, mas acredita-se que a jóia tenha vindo da Índia, e muitos indianos consideram a pedra como um pedaço de sua história nacional, roubado durante o reinado do
Império Britânico. A Rainha Camila também terá direito a orbe, ceptro e ao uso de dois mantos reais; o primeiro aquele nque foi usado por Isabel II durante a Coroação, e depois, outro feito propositadamente para a Rainha Camila desfilar.

Humberto Nuno de Oliveira

6 de Maio de 2023

Fotos: Arquivo Lyon Court, RTP, Arquivo Fundação Oureana e Arquivo Royal Collection Trust

*Carlos Evaristo, é Presidente da Direcção Vitalício da Fundação Oureana. Nasceu junto de um Castelo em London (Ontário) e reside hoje no Castelo de Ourém. É Comentador da RTP e CNN e Perito em Iconografia Sacra Medieval. Súbdito de Sua Majestade, conhece bem todo o ritual e tudo o que a Coroação simboliza. Nobre Escocês com o título de Barão Bailio de Plean. Foi o primeiro, e até hoje, o único Súbdito de Sua Majestade, de nacionalidade Luso-Canadiana, a poder usar Brasão de Armas e Bandeira em Flâmula e ainda um padrão pessoal de Tartã; honras concedidas em 2020, pela Rainha Isabel II através do seu Lord Lyon, Rei de Armas da Escócia. Evaristo é quem legalmente substitui o Barão de Plean nesse Condado aquando da sua ausência. George Way, Barão de Plean é Membro da Corte do Lord Lyon da Escócia e tem o título de “Carrick” sendo um dos três Guardiões da Regália de Carlos III como Rei da Escócia, Jóias que incluem a “Pedra da Coroação” colocada no Trono ou Cadeirão de Santo Eduardo, a peça mais importante de todo o Ritual da Coroação.

Poderá rever na RTP Play a explicação feita por Carlos Evaristo sobre o tema da Regalia da Coroação. Ver Programa “Praça da Alegria” transmitido a 4 de Abril de 2023.

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Carlos Evaristo em entrevista ao Diário de Notícias: “Festa das Santas Relíquias de Belver é uma celebração única no país!”

Procissão anual leva urna relicário com relíquias à volta da Vila de Belver

“A vila protegida de Deus onde a história salva o futuro das jovens gerações”

FESTAS Agosto é tempo de regresso às raízes, em vilas e aldeias de bisavs e avós onde a história é feita de lendas e verdades. Nesta localidade alentejana, ficção e realidade uniram-se há muito tempo para proteger a continuidade desta terra e das suas gentes. Este domingo honram-se as Santas Relíquias de Belver, esperando-se uma afluência recorde.

Do alto de um monte, com vista sobre o rio Tejo, Belver é Terra de Guidintesta, envolta num ar de magia e fé em honra das Santas Relíquias. Hoje, é dia de festa e a gente regressa à terra para um reencontro anual. Jovens e anciãos, paróquia e Clube Recreativo e Desportivo Belverense, unem-se para criar “uma celebração única no país”, diz Carlos Evaristo, arqueólogo especialista em relíquias sagradas. O culto secular coloca o poder de Deus nas ruas de Belver. Resta saber se é possível desvendar o que são as Santas Relíquias da vila. Mil anos antes, talvez também em dia de festa, uma princesa clamou, na colina do castelo junto a uma oliveira que ainda lá está, “mas que belo ver”, batizando assim este ponto das Terras de Guidintesta. Pelo menos é assim que diz a lenda, que em Belver é inseparável da História, num Alto Alentejo fronteiriço à Beira Baixa, lugar de fusão de costumes e tradições.

Afirmando que “existe uma parte de factos históricos e outra de lenda associada às relíquias”, o historiador belverense CarlosGrácio mantém um profundo “respeito pela originalidade e longevidade que as Santas Relíquias têm no imaginário e memória de Belver, de tal forma que ligam o religioso e profano numa celebração única”. O que são as Santas Relíquias “é o mistério”. Carlos Grácio ouviu a sua mãe contar que “nos anos de 1950 o relicário foi aberto e lá dentro estava uma caixa com várias divisórias onde as relíquias estavam dispostas em saquinhos, entre elas um anel de prata do bispo S. Braz, em honra de quem foi erguida a Ermida de S. Braz, dentro dos muros do Castelo de Belver e onde, originalmente, estavam depositadas as relíquias”. O que estaria nos saquinhos? E se as Santas Relíquias de Belver forem pedaços do poder de Deus na Terra? Lenda dourada ou fé inabalável?

Carlos Evaristo está na senda das relíquias portuguesas há décadas. Arqueólogo e historiador, integra um projeto da Fundação Histórico Cultural Oureana para catalogação destes artefactos em Portugal. Das Santas Relíquias de Belver conhece a “Lenda Dourada”, como é denominado o folclore criado em torno de devoções.

Citação completa de Carlos Evaristo: “O regresso das Santas Relíquias a Belver, depois de roubadas ou removidas, navegando sozinhas Tejo acima é um conto que se repete em outras terras da Península Ibérica, omo em Oviedo”, explica. “O mais provável é que as Relíquias foram pilhadas pelos Franceszes ou retiradas dos bustos relicários da Lipsanotheca do Castelo de Belver aquando da desacralização em 1834 mas isso são teorias minhas que preciso de investigar. O certo é que a devolução à Paróquia das relíquias, pilhadas no século XIX pelas tropas de Napoleão ou retiradas e colocadas numa Arca são algumas hipoteses viaveis. Outra é que tenam sido pedidas outras mais tarde ao Vaticano que, depois, as fez chegar novamente a Belver. Numa das hipoteses é certo que as mesmas foram transportadas provavelmente de barco pelo Tejo acima e daí a origem da lenda”.

A primeira referência identificada por Carlos Evaristo sobre este misterioso conjunto de objetos é de 1555, data em que foram trazidas para Belver, pela primeira vez, por D. Luís, filho do rei D. Manuel I e, à época, Prior do Crato, sendo a este priorado que pertencia a Ordem dos Hospitalários” detentora das Terras de Guidintesta. O que eram as Santas Relíquias no século XVI “não se consegue verdades. Nesta localidade alentejana, ficção e realidade uniram-se há muito tempo para proteger a continuidade desta terra e das suas gentes. Este domingo honram-se as Santas Relíquias de Belver, esperando-se uma afluência recorde.”

(…)

Sobre o que estará guardado hoje no relicário, Carlos Evaristo apurou em arquivos oficiais que Citação completa de Carlos Evaristo: “guarda várias relíquias provávelmente,. sem estarem e, relicários ou tecas pois foram retiradas dos bustos relícários existentes na Capela do Castelo que estão vazios assim sendo estão certamente dentro de envulcros de papel ou de pano com equiquetas ou escritos a identificar as mesmas e daí elas estarem numa espécie de arca que é venetrada. Mas consta também que existem outras em relicários de prata tal como uma relíquia de São Sebastião, outra de São Braz, Patrono da Ermida e ainda algumas referencias a ceras”.

As ceras em relicários são, habitualmente, Agnus Dei, Citação completa de Carlos Evaristo: pedaços de discos ovais imbuídos de benções contra os males benzidas pelo Papa e seus Cardeais a cada 7 anos do Pontificado e assim emanam o poder de Deus canalizado por uma bênção do seu representante na Terra: o Papa”.

Com pedaços do poder de Deus a percorrer todos os anos as ruas de Belver, não é de espantar
que a vila se mantenha a salvo de todos os males. “Facto é que em tempo de aflição as pessoas recorrem às Santas Relíquias e são atendidas”, conta Martina de Jesus, presidente da Junta de Freguesia.

(…)

A autarca não tem dúvidas de que “a história, folclore e etnografia de Belver representam o passado e são o futuro da terra”, que encontrou grande desenvolvimento no turismo de natureza e turismo cultural. O Castelo de Belver. “ (…)

Citação completa de Carlos Evaristo: Tal como as replicas da Arca da Aliança que são levadas em procissão pelos Padres Coptas de Gondar na Etiópia, ninguém sabe o que vai dentro da Arca Relicário de Belver.

TEXTO ANA MARTINS VENTURA

Diário de Notícias, 19 de Agosto de 2022

(Página 18 – Local)

https://www.dn.pt/local/belver-a-vila-protegida-de-deus-onde-a-historia-salva-o-futuro-das-jovens-geracoes-15100393.html?fbclid=IwAR0k4junkoRWjxXTsmLOG4OUFGLGFCvRzAXKq5uS-j8bCVDZRu6qNCADdQk

A equipa de peritos de Carlos Evaristo está a levar a cabo a reautenticação das relíquias da Peninsula Ibérica e já reautenticou os relicários da fabulosa colecção da Igreja de Nossa Senhora do Pópulo em Braga entre outras colecções insignes. Para Evaristo; “As Relíquias da Arca de Belver deviam de ser estudadas e reautenticadas com a colocação de selos de lacre e emissão de Autenticas novas em conformidade com as normas e rubricas da Santa Sé para veneração pública de relíquias. Estas normas foram recentemente promulgadas pelo Papa Francisco e por isso esperamos que permitam que se realize este trabalho”.
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Papa aceitou renûncia do Capelão Geral da R.I.S.M.A. D. Manuel António Mendes dos Santos como Bispo de São Tomé e Príncipe

D. Manuel António dos Santos

NOTÍCIA – Cidade do Vaticano, 13 jul 2022 (Ecclesia) – O Papa aceitou hoje a renúncia de D. Manuel António dos Santos ao governo pastoral da Diocese de São Tomé e Príncipe, onde se encontrava desde 2007.

A nota divulgada pela Santa Sé não adianta, como tem sido a norma destes comunicados, detalhes sobre o motivo da renúncia do bispo português, de 62 anos de idade.

Em declarações à Agência ECCLESIA, D. Manuel António disse que “começava a sentir algum cansaço” após 15 anos como bispo de São Tomé e Príncipe e defendeu que, na tradição da cultura de renovação de mandatos nas congregações religiosas, “uma pessoa que desempenha um determinado cargo não deve permanecer eternamente”.

“Ao fim de 15 anos, sendo uma igreja pequena em que tudo se centra no bispo, acabo por me sentir já bastante cansaço e portanto a necessitar de restaurar forças, reanimar a vida”, afirmou.

D. Manuel António sublinha que “só leva coisas boas” de África, diz que “o povo são-tomense é um povo extraordinário” e sempre se sentiu “muito acarinhado” na diocese, que conhecia quando foi nomeado bispo.

“É bom reconhecermos as nossas capacidades e dizer que está na hora que outro venha e que não quero acabar esgotado completamente, mas ainda com energias para continuar a servir a Igreja, noutro lugar se for possível”, afirmou.

Questionado sobre o facto de várias dioceses de Portugal aguardarem a nomeação de bispo, D. Manuel António afirmou que “não está a pensar nisso” e, caso não haja nenhuma outra indicação, vai “regressar à congregação religiosa” a que pertence e “continuar aí o trabalho missionário”.

“Não estou preocupado se vou para uma diocese ou se vou para pároco numa paróquia”, afuirmou

O bispo emérito de São Tomé e Príncipe vai permanecer na diocese até 28 de agosto e, nos próximos dias, vai participar na assembleia plenária da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe (CEAST), que está a decorrer em Luanda.

Como administrador apostólico foi nomeado D. António Pedro Bengui, bispo auxiliar de Luanda, Angola.

O religioso claretiano tinha sido nomeado bispo de São Tomé e Príncipe por Bento XVI, em 2006, e foi ordenado bispo em Fátima a 17 de fevereiro de 2007, no Santuário de Fátima, pelo cardeal José Saraiva Martins.

A entrada solene na diocese lusófona aconteceu a 18 de março de 2007.

D. Manuel António Mendes dos Santos, antigo superior da Província Portuguesa dos Missionários do Coração de Maria (Claretianos), nasceu a 20 de março de 1960, em São Joaninho, concelho de Castro Daire, Diocese de Lamego; foi ordenado sacerdote em 13 de julho de 1985.

Entre 1993 e 1995 teve a seu cargo as paróquias de Guadalupe e de Neves, e, durante algum tempo, também a de Santo Amaro, em São Tomé e Príncipe.

A diocese promove hoje uma celebração para assinalar o 37.º aniversário de ordenação, como padre, do bispo português.

13 de Maio de 2022

FONTE: https://agencia.ecclesia.pt/portal/sao-tome-e-principe-papa-aceita-renuncia-de-d-manuel-antonio-dos-santos/

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Faleceu Francisco Ramalho; Foi Chanceler da Real Irmandade da Ordem de São Miguel da Ala

NOTÍCIA – É com triste pesar que comunicamos o falecimento, ontem, 9 de Julho de 2022, de Francisco Pereira Ramalho (Mestre), Chanceler Emérito da Real Irmandade da Ordem de São Miguel da Ala e um dos mais antigos membros da Ordem de São Miguel.

“O Senhor Ramalho” como era carinhosamente tratado por todos, nasceu em Moura, no Alentejo, a 4 de Março de 1932, tendo sido durante muitos anos bibliotecário da Fundação Calouste Gulbenkian, primeiro em Lisboa, e depois em Santarém.

Casou a 18 de Setembro de 1966, com Maria Isabel Diniz Pereira Ramalho, falecida em 1999, e com a qual teve duas filhas; Isabel Diniz Pereira Ramalho Jorge e Berta Diniz Pereira Ramalho falecida em 1994.

Francisco Ramalho era Membro Fundador da R.I.S.M.A

Monárquico assumido, Francisco Ramalho foi fundador a 16 de Novembro de 1987, da primeira Real Associação nacional em Mogadouro então denominada DECORO = Real Associação Escalabitana para a Defesa da Coroa, e depois com seu amigo de longa data, o Senhor Marquês de Rio Maior, D. João Vicente Saldanha de Oliveira e Sousa, fundou a Real Associação de Santarém, hoje Real do Ribatejo.

Foi Membro Fundador da Real Irmandade da Ordem de São Miguel da Ala em 2001, e desde a fundação que fazia parte do Comando Geral da Real Associação de Guardas de Honra dos Castelos Panteões e Monumentos Nacionais, do Conselho dos Condestáveis da Real Confraria do Santo Condestável e membro da Real Irmandade do Santíssimo Milagre de Santarém.

Francisco Ramalho era Grã-Cruz com Colar da Real Irmandade da Ordem de São Miguel da Ala e também Cavaleiro Grã – Colar da Real Ordem de São Miguel da Ala, tendo sido investido em 1981, por S.A. R. o Duque de Bragança e o então Chanceler das Ordens Prof. Marcello de Morães. Era também Comendador Honorário da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e Cavaleiro com Colar da Ordem de Mérito da Casa Real. Tinha recebido a Medalha de Mérito de ambas as Ordens Dinásticas da Casa Real pelos longos anos de serviço e dedicação à Causa Monárquica e o seu empenho como Assessor do Chefe da Casa Real, D. Duarte Pio de Bragança.

Francisco Ramalho e o Marquês de Rio Maior

Em 2001, Francisco Ramalho foi nomeado Vice-Chanceler da Real Irmandade da Ordem de São Miguel da Ala, cargo que exerceu até 2017, altura em que foi promovido a Chanceler devido à elevação do Marquês de Rio Maior a Chanceler Mor por morte de S.A. D. Henrique de Bragança, Duque de Coimbra.

Em 2019, foi exonerado dos cargos que ocupava por motivos de saúde, tendo recebido em 2020 o grau de Grã-Cruz com Colar da R.I.S.M.A. por ocasião dos 850 anos da Ordem de São Miguel da Ala e os 20 anos da Real Irmandade da mesma Soberana Invocação. Infelizmente, por ter contraído COVID 19 não pôde participar nas Cerimónias de abertura do Ano Jubilar de São Miguel da Ala que tiveram lugar no Mosteiro de Alcobaça.

Era membro Grã-Cruz das Ordens Dinásticas de várias Casas Imperiais e Reais Patronas do Instituto Preste João do qual era também membro fundador; nomeadamente as Casa da Etiópia, da Geórgia, do Ruanda, do Vietnam, do Montenegro, do Havai, do Kupang, do Sulu, etc.

Representou no estrangeiro, várias vezes, a Chancelaria das Ordens Dinásticas da Casa Real Portuguesa, e presidiu com os restantes membros da Chancelaria. aos Capítulos Gerais da R.I.S.M.A. que tiveram lugar em Casale Monferrato e Roma, Itália, Santiago de Compostela e Oseira, Espanha tendo participado em várias Peregrinações Internacionais que ajudou a organizar; a Fátima, Santiago de Compostela, ao Vaticano, a Pádua e a Veneza.

Na Missa de Corpo presente que teve lugar hoje, pelas 12:00 Horas, somente com os familiares e alguns amigos mais chegados a assistirem na Capela do Crematório em Santarém, o Manto da Real Irmandade da Ordem de São Miguel da Ala e as suas condecorações cobriam o caixão.

À família enlutada a Família Real Portuguesa e a Chancelaria das Ordens Dinásticas da Casa Real Portuguesa e Cúria, enviam os mais sentidos pêsamos.

A filha: Maria Isabel Diniz Pereira Ramalho Jorge, o genro Ângelo Rui Jacinto Jorge o os neto Pedro Miguel Ramalho Jorge e Rita Isabel Ramalho Jorge, agradecem a todos os amigos que manifestaram e continuam a manifestar o pesar pelo falecimento de Francisco Ramalho.

R.I.P. Francisco Pereira Ramalho (Mestre)
4 de Março de 1932 – 9 de Julho de 2022

COMUNICA-SE que haverá uma Missa de 7º dia presidida pelo Capelão Mor Adjunto da R.I.S.M.A. na Capela de Cristo Rei da Regalis Lipsanotheca, no Castelo de Ourém, Sábado, 16 de Julho de 2022, pelas 17:30 Horas, e outra Missa, em Santarém, na Igreja Paroquial de Marvila, Domingo, 17 de Julho de 2022, pelas 12:00 Horas.

No Columbário da Fundação Oureana será inaugurado com Honras de Exéquias Fúnebres, a 24 de Setembro de 2022, o Memorial a Francisco Pereira Ramalho (Mestre) amigo benfeitor da Fundação Oureana por quem os membros do Conselho de Curadores, Direcção e Conselho Jurídico – Fiscal rezam:

Dai-lhe, Senhor, o eterno descanso 
Entre os esplendor da luz perpétua. 
Descanse em paz.

Ámen

11 de Julho de 2022

Armas de Óbito de Francisco Ramalho desenhadas pelo Desenhador Heráldico Mathieu Chaine
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Entrevista com Carlos Evaristo na Revista SÁBADO: “As relíquias mais macabras em Portugal”

Revista “Sábado” 2 de Julho de 2022.

Além do coração de D. Pedro IV, que será trasladado para o Brasil, há outros restos mortais de santos e criminosos, preservados em Portugal.

Durante mais de cinco horas, peritos do Instituto de Medicina Legal avaliaram o estado de um coração com 187 anos. O órgão, preservado em formol, não foi retirado do vaso de vidro que o preserva intacto. Antes foi removida e avaliada uma pequena amostra. Os cuidados com um coração que há muito deixou de bater têm razão de ser: é o coração de um Rei. Mais precisamente de D. Pedro IV, o monarca que declarou a independência do Brasil e que Brasília quer ver presente nas celebrações do bicentenário, no próximo mês de setembro.

A cabeça de Diogo Alves, o assassino do Aqueduto das Águas Livres, está preservada na Faculdade de Medicina de Lisboa.

Não foi a primeira vez que a relíquia foi avaliada. Desde 1835, quando o coração foi entregue à cidade do Porto, fizeram-se “várias verificações e análises ao estado de conservação do coração, sempre por peritos de Farmácia e de Medicina das Escolas de Medicina do Porto e mais recentemente pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar”, explica Francisco Ribeiro da Silva, mesário da Venerável Irmandade da Lapa, onde está guardada a relíquia.

O coração de D. Pedro IV foi examinado por peritos antes de ser autorizada a sua transladação para o Brasil.

O coração foi entregue ao então presidente da câmara do Porto, Vicente Ferreira de Novais, cinco meses após a morte do Rei, dentro de um pequeno cofre de prata dourada. Só ao fim de um mês é que os médicos da então Real Escola Cirúrgica do Porto decidiram colocá-lo num vaso de vidro.

Ao longo dos anos, foi necessário fazer alterações. “Segundo a documentação, em 1872 os líquidos foram substituídos. E em 1908 o álcool foi substituído por líquido indefinidamente conservador de Kaiserling”, diz à SÁBADO Francisco Ribeiro da Silva. “Acredito que isso sucedeu mais vezes, não muitas, não obstante as dificuldades de lidar com o vidro sem o partir.”

A viagem transatlântica foi autorizada e o presidente da câmara do Porto, Rui Moreira, acompanhará a relíquia até Brasília, a 8 de setembro. Será a primeira vez que o órgão deixa as quatro paredes que habita. “Para fora do espaço da Igreja jamais o coração saiu.”

Cinco peritos do Instituto de Medicina Legal avaliaram o estado do coração de D. Pedro IV antes da viagem para o Brasil.

Mas a prática não é inédita. “Há corações de santos que fizeram peregrinações pelos Estados Unidos. Desde que esteja mergulhado em formol é duvidoso que mude de natureza”, garante Carlos Evaristo, especialista em relíquias sagradas.

Não é o único coração real preservado há centenas de anos. No Mosteiro de São Vicente de Fora, onde se encontra o Panteão dos Reis da Dinastia de Bragança, estão os corações e as vísceras de quatro monarcas e um príncipe. “Estão guardadas em potes de porcelana chinesa, depositados debaixo do chão da Capela dos Meninos de Palhavã [referente aos filhos bastardos de D. João V], por baixo de pedras recortadas em forma de diamante”, explica Miguel Pires, guia do mosteiro. O coração e as vísceras eram retirados para permitir o processo de embalsamamento. “Encontram-se no mosteiro os corações de D. João V, D. José I, D. João VI, D. Pedro III e do príncipe Augusto [herdeiro do trono do Brasil].”

A zona onde está enterrado o coração e as vísceras do Rei D. João V, no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa.

A sua presença foi confirmada pelo arqueólogo Fernando Rodrigues Ferreira que, no ano 2000, exumou o caixão de madeira que continha o pote de porcelana das entranhas de D. João VI. O objetivo era confirmar a tese de que o monarca, marido de D. Carlota Joaquina e pai de D. Pedro IV, que fugira das tropas napoleónicas para o Brasil, em 1807, tinha sido envenenado. Análises aos pedaços de intestino e de fígado lá encontrados determinaram a causa de morte: envenenamento por arsénio.

Relíquia científica
A única cabeça embalsamada de um criminoso com os olhos abertos em Portugal. “Ele está a olhar para nós”, diz à SÁBADO António Gonçalves Ferreira, diretor do Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina de Lisboa, que há 180 anos guarda a alegada cabeça do homicida em série Diogo Alves. Porquê? Não se sabe. “Não costumava ser assim. Os corpos eram e são embalsamados como morrem, de olhos fechados.”

Os caixões dos reis da dinastia de Bragança antes das obras em São Vicente de Fora, em 1932.

Foi assim para reis, rainhas e bispos. “Os corpos eram preservados como forma de homenagem, tal como se prestavam aos faraós do Egito”, explica Carlos Evaristo, especialista em relíquias sagradas e fundador da Regalis Lipsanotheca, um repositório de relíquias.

Não foi o caso de Diogo Alves. O galego que serviu em casas de nobres no século XIX, foi preso e condenado à morte na forca, pela morte de cerca de 70 pessoas. Muitas delas, lavadeiras e agricultores que atravessavam o Aqueduto das Águas Livres para chegar a Lisboa e fazer negócio. O homem, e o seu gangue, roubava-os e, de seguida, atirava-os do aqueduto abaixo. A tática resultou: durante meses as autoridades não investigaram os crimes, convencidos de que se tratava antes de suicídios.

Quando foi enforcado, a 19 de fevereiro de 1841, no Cais do Tojo, a sua cabeça foi decepada e entregue à Escola Médico-Cirúrgica com a intenção de a estudar. “No fim do século XIX, procurava-se correlacionar alterações de comportamento com disformias da cabeça”, explica o diretor do Instituto de Anatomia, mas nada foi feito. “Não foram feitos exames, porque a cabeça está intacta”, explica António Gonçalves Ferreira. “E não há qualquer registo de um estudo na Faculdade de Medicina.”

O sarcófago da Rainha Santa Isabel no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, em Coimbra.

Mais: não é certo que a cabeça, cabelos, bigode e pera louros sejam do galego. “Descobriu-se uma série de documentos antigos sobre crânios identificados como sendo do grupo de Diogo Alves. Levanta dúvidas se a cabeça será mesmo de- le ou de um dos capangas.” Um mistério que não terá resolução. “Até agora, nenhum descendente reclamou a cabeça.”

Uma mão com quase 700 anos
Em Coimbra, a mão de uma rainha declarada santa foi exposta ao público no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, em 2016, por ordem do bispo de Coimbra. Celebravam-se, então, os 500 anos da beatificação da Rainha Santa Isabel, consorte do Rei D. Dinis. A princesa de Aragão morreu em Estremoz em 1336 e foi enterrada, a seu pedido, em Coimbra. Em 1612, quando se abriu pela primeira vez o seu túmulo para o processo de canonização, encontraram o corpo “mui são, inteiro e sem corrupção, de maneira a que a cabeça estava com os cabelos inteiros, louros e sãos, de maneira que pegando por eles estavam fixos. A testa e todo o rosto coberto pela mesma carne, muito alba e bem proporcionada, com nariz, orelhas, olhos e boca, sem corrupção”, lê-se nos autos oficiais. Não foi milagre. “A Rainha Santa Isabel terá sido mumificada, possivelmente com sal nitrato, como as múmias do Egito, porque tem uma aparência escura”, explica Carlos Evaristo. A preservação do corpo terá sido feita para que o cadáver suportasse a viagem de Estremoz, no Alentejo, até Coimbra.

Durante anos a família real portuguesa em visita a Coimbra beijava a mão da rainha Santa e surgiram várias relíquias do seu cabelo. “No tempo de D. Miguel I [aclamado em 1828], o bispo de Coimbra abriu o sarcófago e cortou uma madeixa de cabelo da Rainha, que ofereceu ao Rei e às suas irmãs”, conta Carlos Evaristo. “Nós na Lipsanotheca temos um relicário com o cabelo.”

Carlos Evaristo avaliou o estado do corpo do arcebispo de Braga, D. Lourenço Vicente.

As relíquias de santos foram durante séculos muito populares. “Não havia igreja que não tivesse a sua pedra d’ara [pedra de mármore colocada no centro do altar com um orifício] onde estava guardada uma relíquia de santo”, explica Carlos Evaristo, coautor do livro Relíquias Sagradas. As relíquias são consideradas pelo Vaticano como sacramentais, por ajudarem à fé cristã, e tiveram o seu auge no século XVIII, depois de o “Papa Pio IX ter mandado exumar cerca de 20 mil cadáveres de mártires das catacumbas de Roma, considerados santos por terem morrido pela fé, e distribuiu as suas relíquias pelo mundo”.

Mas o seu culto tem desaparecido e há relíquias esquecidas em sótãos de igrejas, em reservas de museus e “algumas foram parar ao lixo”, garante Carlos Evaristo. Para travar o seu desaparecimento, o especialista, que ajuda dioceses a preservar e autenticar relíquias, criou um espaço, a Regalis Lipsanotheca (real relicário em latim), em Ourém e Fátima. Aqui, deposita em altares, como manda o Vaticano, uma coleção que só é superada pela Lipsanotheca Pontifícia, situada ao lado da capela privada do Papa no Vaticano e que contém relíquias de todos os santos canonizados pela Igreja.

Canibalismo
O cientista britânico que comeu o coração de Luís XIV
O geólogo inglês William Buckley, deão da Abadia de Westminster, em Londres, ficou conhecido por, em 1848, ter engolido um pedaço do coração do Rei francês Luís XIV, que se encontrava guardado num medalhão de prata da família Harcourt. Não o fez deliberadamente: pensou ser um mineral e quis identificá-lo com a boca.

Susana Lúcio

FONTE: Revista “Sábado”, 2 de Julho de 2022; Páginas

https://www.sabado.pt/vida/detalhe/as-reliquias-mais-macabras-em-portugal

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Entrevista com Carlos Evaristo sobre o Traslado do Coração do Imperador D. Pedro I para o Brasil e sobre as Relíquias históricas e religiosas em Portugal na Revista “Notícias Magazine” do Jornal de Notícias

O Deputado Federal Brasileiro Príncipe D. Luiz Phillipe de Orleans Bragança com o Cônsul Honorário do Brasil em Fátima. Foto tirada em Ourém no passado mês de Janeiro, um dia antes do pedido formal do Governo do Brasil a pedir a trasladação do Coroação do Imperador D. Pedro I ter sido entregue à Câmara Municipal do Porto e â Irmandade de Nossa Senhora da Lapa. (Foto de José Alves)

Por Sara Sofia Gonçalves (Jornalista)

FONTE: Notícias Magazine, Jornal de Notícias, 26 de Junho de 2022 , Páginas 38 a 43

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Faleceu Patrícia Margaret Haffert, co-fundadora da Fundação Histórico – Cultural Oureana

R.I.P. (1931 – 2022)

É com triste pesar que se divulga a notícia do falecimento esta manhã de Patrícia Margaret Haffert, co-fundadora da Fundação Histórico – Cultural Oureana.

A viúva de John Mathias Haffert faleceu, de morte natural, aos 91 anos de idade, na sua casa em Washington, New Jersey, localizada no Santuário de Fátima, sede do Apostolado “Exército Azul” que seu marido havia fundado em 1947.

Patrícia que nasceu na Inglaterra em 1931, era devota de Nossa Senhora de Fátima e militante da mensagem de Fátima desde há mais de 60 anos quando se havia tornado Secretária de John Haffert e mais tarde colaboradora e co-autora de vários livros.

Tornou-se segunda esposa de John Haffert já na década de 1970 após o fundador do Exército Azul se ter tornado viúvo. Apoiou desde então todas as suas iniciativas incluindo o programa do Restaurante Medieval e a criação da Fundação Oureana e manteve-se ao lado do marido como força inspiradora até ao seu falecimento a 31 de Outubro de 2001.

John e Patrícia Haffert com a Madre Teresa de Calcutá.

Conheceu e conviveu com muitas figuras da Igreja Católica desde Papas, à vidente de Fátima Irmã Lúcia e a Madre Teresa de Calcutá. Recebeu várias homenagens e era membros das Ordens dinásticas da Casa Real Portuguesa; da Rainha Santa Isabel, de São Miguel da Ala e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.

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Nos últimos anos e depois de ter deixado a vice-presidência do Conselho de Curadores da Fundação Oureana, Patrícia Haffert retirou-se para uma pequena casa que havia construído no Santuário de Nossa Senhora de Fátima em Nova Jersey.

Em 2016 havia consignado a imagem milagrosa da Virgem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima ao Exército Azul e desde então Nos últimos anos e depois de ter deixado a vice-presidência do Conselho de Curadores da Fundação Oureana, Patrícia Haffert retirou-se para uma pequena casa que havia construído no Santuário de Nossa Senhora de Fátima em Nova Jersey, passando a ser figura frequente durante as Missas e a recitação do terço do rosário.

Encontrando-se debilitada e acamada em casa após o regresso de uma breve estadia no Hospital e depois de ter sobrevivido à Covid 19, Patrícia Haffert veio a faleceu esta noite de morte natural e após as exéquias fúnebres que terão lugar no Santuário em data ainda por anunciar, será sepultada junto ao marido no cemitério privado do mesmo Santuário.

Em Ourém haverá uma Missa de Funeral Indulgenciada na Sexta-Feira, dia 10 de Junho de 2022, Festa do Anjo de Portugal,pelas 17:30 horas.

Relíquias de Patrícia Haffert serão posteriormente colocadas no Cenotáfio Memorial da Família localizado na Regalis Lipsanotheca.

O Casal Haffert com o Bispo Sullivan
D. Duarte de Bragança, D. Manuel António Mendes dos Santos e David Carollo com Patrícia Margaret Haffert.

Requiem aeternam dona eis, Domine. Et lux perpetua luceat eis. Fidelium animae, per misericordiam Dei, requiescant in pace. Amen

9 de Junho de 2022

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